Michel Houellebecq ameaça processar jornal por perfil 'não autorizado'
O escritor francês Michel Houellebecq está em uma batalha contra o jornal "Le Monde" após uma série de reportagens em seis partes sobre ele que o jornal começou a publicar na segunda (17) intitulada "Seis Vidas de Michel Houellebecq".
Autor de "Submissão", Houellebecq é descrito como o "escritor para adultos mais procurado em bibliotecas parisienses" e o "autor contemporâneo francês mais estudado fora do país".
Mas também como um recluso. Vive no alto de um prédio no 18º distrito de Paris, com vista para a periferia da cidade. "Ele me explicou que não queria ver nenhum monumento parisiense", disse ao "Monde" o jornalista Sylvain Bourmeau, por muito tempo confidente do escritor. "Próximo à periferia, é prático: pego meu carro e fujo", dizia o autor a seus amigos.
Um dos entrevistados no perfil do jornal, que não se identificou, disse que o autor "se cercou de uma corte de imperador chinês. Ele se apresenta como uma vítima, como um ser que sofre. Na verdade, Houellebecq se transformou em um tirano."
O texto conta ainda que o escritor prepara para 2016 um "Cahier de l'Herne" (coleção biográfica dedicada a autores consagrados). Ele escolhe pessoalmente o que entra ou não: descarta episódios de sua vida e autores de que não gosta (chega a classificar alguns como "idiotas").
A segunda parte do perfil, publicada nesta terça (18), retrata as entrevistas que Houellebecq deu à revista feminina "20 Ans" (20 anos), antes de ser alçado à fama com "Partículas Elementares" (1998). A editora-chefe do periódico, Isabelle Chazot, tornou-se posteriormente personagem do livro "A Possibilidade de uma Ilha" (2005).
RECUSA
Em outro artigo, o periódico cita que o próprio Houellebecq se recusou a cooperar com o jornal. "Me recuso a falar com vocês e estou pedindo que os outros tomem essa mesma atitude", afirmou. "O procedimento judiciário é simples e mais lucrativo". O escritor acrescentou que decidiu falar à revista do jornal "Le Figaro" –publicação que, segundo o "Monde", Houellebecq não hesita em chamar carinhosamente de "torchon" (texto mal escrito).
O autor entrou em contato com diversos movimentos e agitadores culturais de Paris por e-mail, avisando que se o "Le Monde" insistisse, ele não hesitaria em processá-lo.
"É muito comum um escritor se recusar a falar com a imprensa para uma reportagem sobre ele e, se deixarmos isso nos impedir, não escreveríamos sobre nada ou ninguém", afirmou a jornalista Ariane Chemin à agência AFP.
Miguel Medina/AFP | ||
O escritor francês Michel Houellebecq em novembro de 2014, em Paris |
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