Concertos de música clássica invadem festas de música eletrônica
Pense em uma rave. Festa. Luzes do tipo 'strobos'. Clube. Prokofiev. Prokofiev?
A música clássica tem se popularizado em grandes festas de eletrônica, graças ao trabalho de um coletivo baseado em Amsterdã.
Com DJs, música ao vivo e ambiente que lembra as raves de eletrônica, a Classical Music Rave nasceu em 2013 a partir de conversas entre jovens músicos e aficionados, um tanto cansados do modelo tradicional de apresentações em salas de concerto.
"Nós pensamos: 'Todos aqueles concertos em que você tem de ficar sentado e imóvel, sem fazer um ruído"... Horrível! O que poderíamos fazer a respeito?'", conta o violoncelista, DJ e mentor do projeto, Brendan Jan Walsh. "Alguém veio com a ideia: 'E se combinássemos música clássica e rave?' E foi assim que tudo começou."
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'Classical rave' em Tallinn, na Estônia, em março de 2015 |
A estreia, em uma antiga fábrica na capital holandesa, reuniu mais de 500 pessoas em uma noite chuvosa. Entre o público, jovens na faixa dos 30 anos, além de pessoas mais velhas, "de até 60", diz.
Desde então, as "classical raves" se espalharam por outros países da Europa e chegaram, inclusive, ao Brasil.
INDIE CLÁSSICO
O maior evento até agora, na Estônia, em março deste ano, reuniu 1.500 pessoas, e a programação não para –em setembro, Brendan leva a festa pela primeira vez a Cuba.
Outras iniciativas contribuem para atrair um público diversificado ao universo da música erudita: a Nonclassical –selo e festa do músico e produtor Gabriel Prokofiev, neto do compositor Serguei Prokofiev (1891-1953)–, as Ynights, em Zurique, criadas por Etienne Abelin, e selos como o Amsterdam Records e o Bedroom Community.
"São principalmente pessoas entre 25 e 40 anos, uma faixa etária mais jovem do que as audiências tradicionais", diz Abelin, que também organiza o Festival Apples & Olives, em Zurique, em que o clássico se mistura a gêneros como jazz e eletrônico.
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A pianista Daria van den Bercken, em rave 'erudita' em Amsterdã, em 2014 |
"É talvez um público mais inclinado a ir a um show de indie rock que a um concerto sinfônico, mas no fim há gente de todo tipo", comenta ele.
As festas e "classical raves" seguem um formato semelhante: em geral, o público é recebido por DJs tocando música clássica ou fazendo "mashups", como são chamadas as misturas de batidas feitas nas picapes, com eletrônica.
Ao longo da noite, seguem-se apresentações curtas de orquestras, ensembles ou mesmo artistas com propostas vanguardistas, num flerte com o que alguns selos e músicos vêm chamando –não sem polêmica– de "neoclássico" ou "indie classical", a música clássica alternativa.
"O termo é uma boa definição para a jovem cena alternativa de música clássica, independente dos formatos tradicionais", diz Abelin.
NO BRASIL
Para o produtor Gabriel Prokofiev, que esteve em janeiro no Brasil para o Festival RC4, no Rio, a chave está em tratar o gênero de forma mais natural e contemporânea, seja em festas, seja na própria mistura de gêneros. "É música para todos", afirma.
Brendan Walsh, acompanhado de Arthur Gumbs, com quem forma a dupla de DJs Mengel & Berg, trouxe uma versão condensada da "classical rave" para a casa Red Bull Station, em São Paulo, em 2014, no Festival Música Estranha, sob direção artística do compositor Thiago Cury.
"O público quer aprofundar a experiência sensorial, e a música clássica proporciona isso", diz Cury. "Na rave, o percurso começa com os hits, músicas que estão no inconsciente coletivo –Rossini, por exemplo, tem muitas composições que você já ouviu em desenhos animados–, passa pelas mais experimentais e termina no eletrônico."
Na estreia em novembro de 2014, o público paulistano foi convidado a desfrutar da música em uma área relaxante e, como em uma boa e velha rave, cair na pista e dançar.
A reação? "No começo, via as pessoas mais assistindo", diz a artista visual paulistana Marina Reis, que experimentou sua primeira 'classical rave' no Música Estranha. "Aí, alguns começaram a dançar, e depois a música acaba te levando. Quando você para para pensar que está ouvindo música clássica, é muito bacana", conta ela.
"Nunca vi ninguém dançar música clássica como os brasileiros. Vamos voltar", avisa Brendan. Fato: a dupla Mengel & Berg deve vir ao Brasil em janeiro de 2016 para um "classical DJ set" no Festival RC4, no Rio.
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