Cineasta brasileiro em Londres lança longa sobre paparazzo atormentado
Em vez de uma estrela de cinema atormentada por um fotógrafo em seu encalço -primeira imagem que vem à mente quando se fala no trabalho dos paparazzi-, um profissional angustiado pela missão de perseguir um ator.
Foi com essa ideia que Daniel Florêncio, 35, diretor, produtor, editor e roteirista brasileiro radicado em Londres, resolveu, ao mesmo tempo, expor os bastidores dos tabloides britânicos e estrear num longa de ficção.
Divulgação/I Made It Films | ||
O cineasta brasileiro Daniel Florencio, 35, enquanto rodava 'Chasing Robert Barker' |
Intitulado "Chasing Robert Barker" (perseguindo Robert Barker), o filme, rodado em Londres, foi finalizado no mês passado pela produtora islandesa Pegasus, a responsável pelas cenas de gelo de "Game of Thrones".
A um custo de 50 mil libras (R$ 275 mil), angariadas numa campanha de financiamento coletivo na internet, o longa inicia carreira no final de setembro, no 12º Festival Internacional de Cinema de Reykjavík, na Islândia.
O projeto começou a tomar forma há oito anos, quando Florêncio realizou o curta "Tracking William", que mostra a rotina de um fotógrafo até encontrar o príncipe William saindo de uma balada.
Em 2012, após o fechamento do tabloide "News of the World", afundado num escândalo por uso de escutas telefônicas para publicar reportagens, a sinopse do longa ganhou corpo: um fotógrafo solitário que faz parte de uma intrincada rede no submundo londrino, alimentada pela imprensa marrom.
Florêncio assina o roteiro com a noiva, a grega Maria Nefeli Zygopoulou, e responde por direção e edição.
A princípio, tentou escalar uma vítima real do esquema de espionagem -cujo nome prefere não dizer- para o filme. Diante de um polido não do tal ator, escolheu o fictício Barker como alvo do paparazzo, interpretado pelo islandês Gudmundur Thorvaldsson.
Trailer divulgado durante campanha para arrecadar fundos via internet, em 2013
O filme tem ponta do jornalista Richard Peppiatti, que se notabilizou na Inglaterra ao publicar carta no jornal "The Guardian" acusando o dono do tabloide "Daily Star", para quem trabalhou, de racista. Também atuam Hilda Peter, de "Katalin Varga" (vencedor do Urso de Prata em Berlim, em 2009), e Patrick Baladi, que fez parte da série britânica "The Office".
"Direção é escolher as pessoas certas", resume Florêncio, para quem o filme traz a perspectiva de um "outsider". "Nunca serei britânico, o que é bom: você vê e percebe coisas de uma forma diferente."
MIGRANTE
Quando gravou "Tracking William", Florêncio morava havia dois anos em Londres. Saiu de Belo Horizonte para fazer um mestrado em arte e mídia, e nunca mais voltou.
Na capital mineira, fazia clipes e vídeo publicitários, mas sentia falta de trabalhar com cinema, algo que o curso de rádio e TV não lhe ensinou. "Na minha época cinema não existia em BH. Tinha o [cineasta] Helvécio Ratton e olhe lá", diz ele.
Na terra da rainha, começou a trabalhar editando uma animação para a BBC. Fez documentários curtos para a Current TV, que na época era propriedade de Al Gore, o ativista ambiental e ex-vice-presidente dos EUA, e trabalhou para o canal Bloomberg.
São dele os vídeos "Gagged in Brazil" (2008), sobre a relação do então governador Aécio Neves (PSDB) com a mídia mineira; "Loverboys" (2007), que mostra prostitutas estrangeiras de classe média em Amsterdã; e "A Brazilian Immigrant" (2005), sobre o controle de fronteira britânico.
Nos últimos anos, ainda trabalhando com publicidade para pagar contas, decidiu migrar para a ficção, lapidando ideias antigas. O primeiro projeto foi o curta "Awfully Deep", estrelado pelo brasileiro Lino Facioli, 15, o Robin Arryn de "Game of Thrones".
O filme mostra a reação de uma família da classe média com a aparição de uma estranha lama do lado de casa, metáfora da crise econômica de 2008. Levou um prêmio do Short Shorts Film Festival and Asia, em Tóquio, e uma menção honrosa no festival de curtas de Atenas, além de ter sido finalista do BAFTA.
Definido pelo próprio autor como "estranho, que olha para o alto, diferente", o curta foi comprado pelo francês Canal+. "O filme se pagou. Percebi que estava fazendo direito", diz o diretor, que encontrou ali a motivação que faltava para realizar o longa.
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