CRÍTICA
Conjunto relê músicas antigas com sofisticação e originalidade
Um célebre tema musical de apenas oito compassos –quase um mero esqueleto harmônico–, conhecido na Espanha como "La Folia", foi o pretexto para o programa do grupo de música antiga Hespèrion XXI na última terça (1º) na Sala São Paulo.
Liderado por Jordi Savall (violas da gamba soprano e baixo) e contando com Xavier Díaz-Latorre (guitarra barroca), Andrew Lawrence-King (harpa barroca espanhola) e David Mayoral (percussão), o quarteto recebeu o apoio do Tembembe Ensamble Continuo, do México, um trio versátil que se alterna em cordas, percussão e canto.
Compositores de nacionalidades e estilos diversos têm se debruçado sobre as "Folias de Espanha" ao longo dos últimos 500 anos, geralmente para construir variações –ou "diferencias", que é como as chamavam os músicos na renascença espanhola.
Izilda França/Divulgação | ||
Concerto do Hespèrion XXI e coral da Capela Real da Catalunha, sob a direção de Jordi Savall |
O cerne do recital não foi, entretanto, a elaboração desse tema pelos compositores mais conhecidos da tradição tonal, mas surpreender a sua origem popular –tanto na Europa como no Novo Mundo– e explorar as possibilidades de improvisação idiomática.
Frequentemente a pesquisa da música histórica conduz os grupos especializados a performances com algum grau de estranhamento sonoro. Não é o que ocorre com o Hespèrion XXI. Para eles, a história está imediatamente à mão, tamanha é a intimidade com os instrumentos e procedimentos que utilizam.
O som do grupo (amplificado com competência) é trabalhado detalhadamente, sua coesão está no nível dos melhores grupos de câmara, independentemente do estilo. A sofisticação caminha de mãos dadas com a espontaneidade.
Díaz-Latorre foi espetacular em seu solo de guitarra em "Jácaras", de Gaspar Sanz (1640-1710), e o próprio Savall abriu a segunda parte com um eloquente solo de viola sobre peças de origem escocesas.
A presença do trio mexicano mostrou como as tradições "criollas" da América hispânica incorporaram elementos nativos e africanos aos europeus. Obras como a "Guaracha", de Juan Garcia Zéspedes, (ca. 1619-1678) permitem improvisações soltas e adicionam energia e bom humor às folias do velho mundo. É música antiga para hoje e amanhã.
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