Cineasta israelense Amos Gitai injeta política em Festival de Veneza
"O Estado de Israel nunca mais será o mesmo." A fase de toada pessimista domina o longa "Rabin, the Last Day", que o diretor israelense Amos Gitai levou ao Festival de Cinema de Veneza.
O thriller reconstitui a investigação do assassinato, a tiros, do premiê israelense Yitzhak Rabin, em 1995, por um extremista judeu contrário aos acordos de paz firmados com os palestinos.
"Rabin é o centro e o buraco negro do filme: a trama gira em torno dele, mas não quis retratá-lo, não quis competir com sua figura", disse Gitai, que já abordou os conflitos na região em filmes como "O Dia do Perdão" (2000).
O crime é reconstruído por gravações da noite em que ministro foi alvejado, num comício pela paz em Tel Aviv. Em seguida, Gitai encena a comissão que apurou a morte, expondo as falhas da segurança e o atendimento médico, e o universo do atirador.
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No filme, ministro chega ao hospital após ser alvejado por judeu contrário aos acordos de paz firmados com palestinos |
Documentos e testemunhos embasaram cenas como as dos rituais religiosos em que rabinos incitavam a morte do premiê, invocando o princípio ortodoxo do "din rodef", a permissão ao homicídio contida no Talmude.
Gitai descarta comparações com "JFK" (1991), de Oliver Stone, sobre a morte de Kennedy. "Não foi conspiração do caso de Rabin, cuja morte era anunciada nos muros. Ela foi cometida para desestabilizar a democracia."
Para o diretor, lançar o longa 20 anos após o caso faz pensar o presente. "Olhamos o passado não por sentimentalismo, e sim para entender uma época de uma breve esperança de diálogo entre e israelenses e palestinos."
Gitai reafirmou sua opinião de que os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza "são terra dos palestinos". "Temos que conviver com eles. Para se ter paz, você tem de considerar o outro."
Sobre o assassino, hoje preso, diz que foi "só a mão que empunhava a arma, e por isso não é o centro do filme".
Numa edição pouco política -a atriz Tilda Swinton e o diretor Tom Hooper citaram de passagem a questão dos refugiados-, Gitai pediu um minuto de silêncio por Riham Dawabsheh, palestina atacada por extremistas israelenses e que teve a morte anunciada nesta segunda (7).
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