Nelson Baskerville se aventura pela comédia em 'Suburbano Coração'
Conhecido por sua linguagem mais alternativa e de temáticas duras, o diretor Nelson Baskerville se debruça sobre um gênero bem distante, o da comédia, em "Suburbano Coração", que estreia nesta sexta (11), no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo.
"Eu adoro a ideia de sair um pouco do estereótipo de diretor experimental", conta.
Baskerville, 54, notabilizou-se por um visual "sujo", próximo do agressivo, que abarcava histórias dramáticas. Caso de Luis Antonio - Gabriela (2011) –em que falava do irmão transexual e pelo qual levou o Prêmio Shell de melhor diretor–, "As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo" (2013), retrato de crianças em conflitos de guerra, e "17 x Nelson" (2011), colagem de peças de Nelson Rodrigues.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
As atrizes Luciana Azevedo (esq.), Aldine Muller e Luiza Jorge em "Suburbano Coração" |
"Essa linguagem foi surgindo ao longo da minha carreira, não que eu quisesse ficar conhecido como um diretor experimental."
QUASE CONVENCIONAL
Em "Suburbano Coração", Baskerville dialoga com a tradição. Ou quase.
"Eu queria fazer um trabalho totalmente convencional, mais careta. Mas não consegui." Há um pouco do seu universo kitsch nos detalhes do cenário, que não é estático, mas formado de módulos que se movem para criar os diversos espaços da trama.
A história do dramaturgo Naum Alves de Souza é centrada na sonhadora Lovemar (papel de Luiza Jorge, que também produz a montagem ao lado de Fábio Santana), uma moça de subúrbio em busca do amor perfeito.
Mas, em sua saga, encontra percalços: um namorado que se revela gay, o pretendente que leva a mãe para casa, o religioso charlatão.
E a história é embalada pelo espírito ingênuo de programas românticos de rádio, além da música de Chico Buarque que dá título à peça, aquela que diz: "Quando aumentar a fita/ As línguas vão falar/ Que a dona tem visita/ E nunca vai casar".
"Naum trata de todos esses temas [do amor e de relacionamentos] com humor e sarcasmo e ainda consegue brincar com o religioso, com o homossexual dentro do armário", comenta o encenador.
Escrito em 1989, o espetáculo teve sua primeira montagem protagonizada por Fernanda Montenegro e Otávio Augusto. "O texto tem essa pureza dos anos 1980", afirma Baskerville. "Era uma época bastante ingênua."
Assim, o diretor decidiu não alterar as referências de época. "É muito bonito, no espetáculo, ver o rádio como personagem. Quase caí na desgraça de atualizar o texto. Mas o papel que as redes sociais cumprem hoje é o mesmo que o rádio tinha. O sentimento [daquela época] é muito compreensível hoje."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade