Na Bienal, professores discutem para que serve oficina literária
Três professores de escrita conversaram com o público da Bienal do Livro na noite desta quinta (9) sobre a função de oficinas literárias na formação de autores.
Paulo Henriques Britto é poeta e leciona um curso de escrita poética na PUC-Rio. Antônio Assis Brasil dá, na PUC do Rio Grande do Sul, o curso mais cobiçado de criação literária do país. Rosangela Petta ministra uma oficina de escrita criativa em São Paulo. A mesa foi mediada por Bia Corrêa do Lago.
Para os professores, aulas de escrita criativa servem para ensinar o aspirante a ler, dar-lhe ferramentas e mostrar como um texto criativo não deve ser escrito. Não que isso seja pouca coisa – todos os três se mostraram irritados com aspirantes a escritor que se inscrevem em seus cursos sem saber que escrever dá trabalho.
"A gente tem uma tradição de diletantismo na produção literária no Brasil. O escritor é visto como um cara iluminado que solta sua voz. Não é assim", disse Petta.
Britto contou que parte dos alunos desiste logo nas primeiras semanas, quando aprendem métrica poética.
Já Assis Brasil citou o pintor francês Eugène Delacroix, que disse a frase: "Primeiro aprenda a ser um artesão. Isso não impedirá você de ser um gênio".
Britto e Assis Brasil também pareciam irritados com o fato de muitos aspirantes a escritor usarem como material narrativo apenas a própria experiência.
Britto diz que faz um exercício de "despersonalização", como diz, com seus alunos, "para obrigá-los a sair da casca". Ele consiste em escrever um poema do ponto de vista de outro.
"Quando peço texto em terceira pessoa, os alunos chegam a suar frio, deixam a sala, entram em pânico", contou Assis Brasil.
Ele também lamentou o fato de escritores contemporâneos falarem pouco sobre temas sociais, como se fazia no passado. "Isso é uma coisa que gerações futuras vão estudar, por que desapareceu a sociedade da literatura."
Questionados se conseguem deixar o gosto, a subjetividade, de lado na hora de avaliar seus alunos, os três disseram que, na escrita, muita coisa é, na verdade, bem objetiva.
"Eu dou um exercício de soneto. Se a pessoa faz outra coisa, tira uma nota ruim", disse Britto, mas depois admitiu que dá notas melhores a alunos que acha mais talentosos.
"O caso dos advérbios, por exemplo: meus alunos dizem que implico com eles. Não é implicância. Se você diz 'fulano vai frequentemente ao cinema', isso não significa nada para o leitor. Se você diz 'fulano vai ao cinema três vezes por semana, aí, sim, você disse alguma coisa", disse Assis Brasil.
Petta foi na mesma direção, dizendo que aponta confusões temporais e mudanças no estilo de fala de personagens, por exemplo.
A professora contou que, quando sente vontade de fazer um comentário subjetivo, prefere não se omitir. "Escrevo do lado do texto: achei isso brega", disse, rindo.
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