Necessidade faz semana de moda de Nova York se abrir para o público
"É tudo entretenimento, baby." No final do seu desfile de verão 2016, Marc Jacobs resumiu ao jornal "The New York Times" o sentimento de exibir sua coleção durante a semana de moda de Nova York num teatro da Broadway, sob os olhares dos convidados que acompanhavam o vaivém de modelos dentro do espaço e daqueles que a moda tanto teme quando adora: o público.
Jacobs, mais pop e influente estilista americano, montou uma estrutura fora do Ziegfeld Theatre para que modelos passassem em meio a pessoas comuns.
Foi o público, ou numa análise mais atenta, os consumidores, os protagonistas deste início de temporada internacional de desfiles.
Nova York, cidade que antecede as apresentações de prêt-à-porter em Londres, Milão e Paris, mandou uma mensagem direta à indústria de que é preciso aproximar os clientes da redoma impenetrável que se tornou as semanas de moda.
Peter Foley/Efe | ||
Modelo de seda da coleção de Calvin Klein |
A grife francesa Givenchy, que faz um dos desfiles mais concorridos e fechados ao público da semana de moda de Paris, foi a Nova York para comemorar os 10 anos do italiano Riccardo Tisci na direção criativa da marca e, de quebra, inaugurar uma loja.
Oitocentas pessoas, entre famosos e anônimos sorteados, viram a apresentação, apoiada pela prefeitura local.
Era 11 de setembro, aniversário dos 14 anos do atentado às Torres Gêmeas, quando artistas dirigidos pela sérvia Marina Abramovic encenaram uma performance que, segundo ela, celebrava o amor. Cantos islâmicos,
católicos e budistas embalaram o desfile de peças pretas e brancas de Tisci.
Elementos do smoking masculino foram aplicados em vestidos fluidos, às vezes preenchidos com camadas de tule. As estrelas, elementos-chave da moda urbana de Tisci, foram tiradas da bandeira americana para preencher detalhes da parte de cima dos paletós masculinos.
O clima de celebração ecumênica foi montado no Píer 26, às margens do rio Hudson. O mesmo local abrigou a megalomania de Tommy Hilfiger, que construiu uma praia no meio da cidade, ao ar livre.
As peças tinham como referência os dias ensolarados do Caribe, mas poderiam ser desfiladas em balneários tão diferentes quanto o Rio de
Janeiro ou Saint-Tropez.
O público acompanhou a semana de moda nova-iorquina desde antes do seu início, no dia 10. O Chelsea Market foi tomado, três dias antes, por uma feira de roupas e acessórios latinos.
Uma exposição de fotos da grife Moncler lotou a biblioteca pública no mesmo dia do desfile da Givenchy, e a loja de departamentos Macy's fez, no dia 17, o que chamou de "o maior desfile de todos". Sessenta modelos desfilaram 150 looks montados com as roupas vendidas no magazine.
MUDANÇA FORÇADA
Esse abraço de Nova York com a moda não tem a ver com a boa vontade das marcas e estilistas locais, mas com a crise nas vendas pela qual o mercado americano se recupera desde 2008 e pela mudança forçada de local.
O Lincoln Center, que abrigou o evento nos últimos cinco anos, não renovou o contrato com a IMG, empresa responsável pela semana de moda, devido a protestos de moradores do entorno contra a bagunça fashionista.
Já na temporada de inverno 2016, em fevereiro, vários estilistas e marcas se mudaram para o bairro de Tribeca, onde rolam desfiles como o do estilista Michael Kors e o da grife Calvin Klein.
A lógica de invadir a cidade e aproximar o público dos desfiles serve de exemplo para semanas de moda fora do circuito principal, como a de São Paulo, que toda temporada se desdobra para manter a relevância num mundo onde mídias sociais viraram as grandes vitrines das grifes.
A distância entre o desfile e a tela do computador precisa ser atenuada para que a passarela não se torne um emaranhado de looks de uma feira esvaziada.
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