Seal é prova de que Rock in Rio errou a mão na escala do palco Mundo
Seal começou seu show neste domingo (20), o terceiro do Rock in Rio, com "Crazy". Uma hora depois, entregou ao público "Kiss from a Rose". Poderia ter ficado por aí, e difícil achar alguém que reclamasse.
Fora esses dois hits globais, o cantor britânico de 52 anos não é lembrado por muita coisa —além, evidentemente, do casamento com a modelo alemã Heide Klum, que acabou em 2014.
A apresentação foi mais uma prova que a organização do Rock in Rio errou a mão ao distribuir seus contratados pelos palcos Mundo (o maior) e Sunset.
Por exemplo: Baby do Brasil e Pepeu Gomes, que tocaram à tarde na estrutura menor, teriam cacife para ser atração principal. Já Seal, com repertório que poderia ser traduzido como "mela cueca" numa tecla SAP honesta para o Brasil, poderia se contentar com menos.
Esforçado ele é. Com a dura missão de anteceder dois vovôs do primeiro time do pop (Elton John e Rod Stewart), não tinha escolha a não ser jogar para a plateia —e se jogar também.
Chegava tão perto do público que, ao trepar na grade de segurança, sua braguilha mais de uma vez ficou a centímetros de meninas na primeira fila —cena exibida nos telões do show.
"I see you" (eu a vejo), disse para outra garota na audiência, olhando diretamente em seus olhos. Depois, fez o indefectível coração com as mãos, marca que serve para o pop como os dedos de chifrinho para o rock.
Sempre um "gentleman", o britânico depois pegou uma bandeira do Brasil com o público e perguntou se era ok colocá-la de lado por um segundo, para que pudesse continuar a cantar. Antes, dobrou a flâmula com diligência.
Não à toa Seal está há tanto tempo na estrada. Aprendeu direitinho a lição nº 1 para sobreviver no "show business", ainda que seu ápice tenha estacionado junto com a era das grandes gravadoras nos anos 1990.
Estabelecer conexão com sua plateia é essencial. Mas não basta.
Estamos no século 21, em que a audiência se acostumou a consumir apenas a música que lhe interessa, em streaming ou download. Mas o show lembrou aquele CD que traz várias faixas de menor importância entre um ou dois singles que faziam sucesso nas rádios. Defasado.
O legado de Seal não é grande o bastante para segurar a atenção de 85 mil pessoas. Não é de se espantar que gritos por "bis", tão comuns em grandes shows, não tenham ecoado da plateia.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade