'Me apedreja que eu seguro a onda', diz diretor Cláudio Assis, acusado de machismo
Duas vezes vencedor do Festival de Brasília (por "Amarelo Manga", em 2002, e "Baixio das Bestas", em 2006), o cineasta pernambucano Claudio Assis experimentou pela primeira vez uma reação adversa da plateia do evento cinematográfico mais politizado do país no último sábado, quando vaias e gritos de "machista" o impediram de apresentar seu novo longa, "Big Jato", antes de sua primeira sessão pública, como parte da competição pelo Candango de Ouro.
Em entrevista à Folha, Assis desabafou: "Se é para ser assim, tudo bem, me apedreja que eu seguro a onda. Mas o alvo está errado. Não estou dizendo que não sou machista, já pedi desculpas. Mas as pessoas que conhecem meu cinema sabem que ele é contra tudo isso que estão falando que sou. O que me deixa abalado não é ser contra mim, é que respingue em outras pessoas inocentes, como as crianças que estão no filme. Nós preparamos as crianças que estariam no palco. Conversei com meu filho, expliquei que o pai dele ia levar uma vaia".
Zanone Fraissat - 3.abr.2013/Folhapress | ||
O cineasta Cláudio Assis |
O protesto foi mais um capítulo da polêmica que começou no dia 29 de agosto, em Recife, quando Assis e o cineasta Lírio Ferreira atrapalharam o debate sobre "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, no cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Amigos da diretora, eles chegaram ao cinema junto com ela para acompanhar o debate, mas, segundo relatos de pessoas da plateia, interromperam respostas e soltaram comentários considerados machistas e homofóbicos. Algumas postagens no Facebook "viralizaram" e o episódio ganhou repercussão nacional.
Assis critica a ferocidade do "linchamento moral" disseminado pela internet: "Tenho um amigo que queria plantar uma árvore chamada pé-de-fuxico, que segundo ele dá muito dinheiro. E o que é o Facebook se não um pé-de-fuxico? Ali as pessoas se escondem e se utilizam dos outros. As coisas se invertem", completa.
Mas se Assis foi calado no palco do Cine Brasília, o filme acabou falando por si. A projeção correu normalmente e se encerrou com fortes aplausos. Boa parte da plateia aplaudiu de pé.
Narrando a história de um adolescente que quer ser poeta, "Big Jato" é um dos filmes mais líricos do diretor, com interpretação arrebatadora de Matheus Nachtergaele dividindo-se em dois papeis. Faltando apenas dois concorrentes entre os longas (o documentário "Santoro - O Homem e sua Música" e o drama "Prova de Coragem", de Roberto Gervitz), "Big Jato" desponta como um dos favoritos a receber prêmios na noite de encerramento do festival, nesta terça-feira.
O jornalista PEDRO BUTCHER viajou a convite da organização Festival de Brasília
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