Kundera constrói vitral de personagens surpreendentes
Escrita em 1971 com base no romance de 1796 "Jacques, o Fatalista, e seu Amo", de Denis Diderot, "Jacques e Seu Amo", do tcheco Milan Kundera, propõe-se a, bem simplesmente falando, familiarizar-nos com exercícios de retórica e o risco da farsa intelectual.
Enquanto caminham de um lugar indefinido para outro do qual nada saberemos, Jacques e seu amo falam sobre sexo, paixões e traições, expondo à plateia olhares agudos sobre hábitos de nobres e burgueses na França pré-Revolução.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Hugo Possolo (à esq.) e Edgar Bustamante em cena de 'Jacques e seu Amo' |
Com palavras bonitas e histórias muito bem contadas, os personagens vão combinando percepções sobre a relação entre o discurso e a intenção por trás dele. Se cada narrativa visa uma conclusão, seu fim também está sujeito a ruir com a narrativa seguinte. Nesse tear irônico de elucubrações, Kundera constrói um divertidíssimo vitral, povoado de personagens surpreendentes.
A encenação de Roberto Lage no Centro Cultural Banco do Brasil mantém o traçado de um teatro popular. Permanece nas delimitações dos tipos, sem impor-se ousadia. O figurino de Fabio Namatame exibe cuidados de pesquisa com a moda francesa do século 18, sem extravagâncias contemporâneas.
As atuações são precisas, meticulosamente desenhadas para não deixar dúvidas sobre o texto e sua engenharia. No entanto, Hugo Possolo (Jacques) e Edgar Bustamante (o amo) tomam pequenas liberdades, criam breves improvisos, quebrando quadros superestetizados.
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