CRÍTICA
Grupo de Bortolotto ressuscita no palco realismo com potência
Existe algo excessivo em "O Canal", e não são apenas as calças que seus personagens vestem –todas aparentemente em numeração maior.
Com texto do americano Gary Richards, o espetáculo de Mário Bortolotto com a companhia Cemitério de Automóveis volta a investir no realismo, seguindo o sucesso de "Killer Joe" (2014).
As duas peças têm em comum a coragem de assumir um gênero que ficou às bordas do teatro depois que o cinema o potencializou. Verdade que aí está o barato da coisa. Agora que poucos "fazem cinema" no teatro, vale à pena investir nesse verniz vintage, fazer cenas à la Tarantino, só que ao vivo.
O protagonista é um mecânico tentando se livrar de uma enrascada (interpretado por Carcarah). Ele faz desmanches de carros roubados sob comando de um policial (Bortolotto) e quer deixar a vida bandida. Em cena também estão Dudu de Oliveira (o ladrão e traficante) e Jiddu Pinheiro, proprietário da garagem.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
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Jiddu Pinheiro no espetáculo "O Canal" |
A direção de Bortolotto é cuidadosa, detalhada no campo cenográfico e na orquestração dos atores. Traça um pequeno desvio em relação ao trabalho anterior, com personagens desenhados para serem agora mais patéticos.
Repetir o clima não é o problema, mesmo porque a história é outra, e agora há um personagem com potencial para tornar-se herói. Sempre crescente, o suspense desemboca em uma cena de violência que ninguém faz igual no teatro. É evidente que o grupo está estudando essa marca.
O problema do realismo não são as fórmulas dramáticas, mas o potencial didático, foi só isso o que envelheceu. Perceber da plateia que o ator quis deixar o texto bem claro faz a obra perder um pouco de graça. Em algumas cenas de "O Canal", é esse o caso.
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