CRÍTICA
Em SP, Frida Kahlo tem mostra à altura de sua produção radical
Poucas artistas do sexo feminino conseguem se destacar em um universo restrito e marcadamente machista, especialmente na primeira metade do século 20, como a mexicana Frida Kahlo (1907-1954). E melhor: seu reconhecimento vem justamente por afirmar um universo feminino, que envolve, inclusive, temas polêmicos, como aborto.
"Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México", em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, faz justiça à produção radical da artista. Ao contrário de exposições que, com poucas obras, criam uma falsa expectativa entre os visitantes a ponto de desapontá-los, esta reúne uma quantidade significativa de trabalhos.
São 20 pinturas, de um universo de apenas 143 que a mexicana realizou. Há, ainda, 13 trabalhos em papel, além de cerca de 40 pinturas de artistas —todas mulheres— que com ela conviveram.
SURREALISMO
Inscrever Frida Kahlo como surrealista poderia soar reducionista e diminuir sua importância, afinal o que torna sua poética particular é o uso de marcas biográficas.
Contudo, ela fez, de fato, sua primeira mostra individual em Nova York, na galeria Julien Levy, famoso reduto dos artistas surrealistas. E teve, na ocasião, texto de André Breton, o autor do "Manifesto Surrealista", de 1924. Frida ainda se envolveria com Jacqueline Lamba, mulher de Breton, que comparece aqui com pinturas como "L'Amour Fou" (o amor louco).
Lamba, de fato, pertence a um grupo de mulheres (como a inglesa Leonora Carrington ou a francesa Alice Rahon, entre tantas) que se radicaram no México e construíram no país uma cena surrealista. Cena que ganhou visibilidade na Exposição Internacional de Surrealismo, na Galeria de Arte Mexicana, que tinha direção de outra mulher, Inés Amor, também homenageada nesta exposição.
Ao tecer essas relações, através de pinturas de todas essas mulheres estrangeiras e do diálogo constante que as obras mantêm, a curadora Teresa Arcq, contudo, não deixa de salientar a mitologia criada pela própria Frida.
Isso ocorre ao expor roupas semelhantes às que ela usava, trajes populares altamente sofisticados, mas que chocavam a burguesia mexicana.
Também estão na mostra os retratos de Frida de Nickolas Muray, que auxiliaram no fortalecimento de sua mítica.
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