CRÍTICA
Filme de Laurie Anderson sobre cão propõe reflexão sobre a vida
Laurie Anderson era garota quando levou seus irmãos para passear sobre um lago congelado. Um buraco se abriu no gelo, e os dois pequenos submergiram no negrume da água gelada. Ela não titubeou: mergulhou, salvou um. Depois mergulhou, salvou outro.
Ao chegar em casa, contou a história para a mãe e esperou sua reação. Ela a elogiou muito –especialmente por suas habilidades como nadadora e mergulhadora. Laurie registrou o momento como o de maior conexão e amor com sua mãe, com quem teria uma relação conflituosa.
Com memórias e reflexões sobre a vida –e a inevitável convivência com a morte–, a multiartista desenvolve com criatividade "Coração de Cachorro". É um filme diferente, denso, com pedacinhos de humor e críticas ao cotidiano nos Estados Unidos depois do 11 de Setembro.
Divulgação | ||
A cadela Lolabelle em "Coração de Cachorro", de Laurie Anderson |
Artista performática, compositora de músicas experimentais, criadora de instrumentos, escultora, Laurie Anderson inova também no cinema. Mescla com sensibilidade diferentes recursos gráficos com filosofia, histórias, música.
Sentir a tristeza sem ser triste. É o caminho que ela diz buscar.
Sim, tem o cachorro. Sua cadela Lolabelle, uma fox terrier, a acompanha por caminhadas em campos.
Era uma forma de enfrentar a angústia e perplexidade com as transformações que aconteciam nos EUA –que foi se tornando cada vez mais militarizado e preocupado em espionar cidadãos.
Em sua trajetória, Lolabelle vira artista: faz esculturas, pinta, toca. Laurie trabalha seus laços com a pequena, filma com a perspectiva dela. Até que ela se vai. Quem tem cachorro sabe do que se trata.
Mas o filme não é só sobre a dor da morte de Lolabelle ou sobre o desaparecimento da mãe. O que permeia tudo é o universo de Laurie Anderson após a morte de Lou Reed (1942-2013), seu companheiro por duas décadas.
editoria de arte/Folhapress |
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O músico é presença sutil, mas intensa. Sua composição "Turning Time Around" amarra, no final, todo o filme. Calma, a fita vai se derramando e criando uma atmosfera reflexiva.
Mesmo quem não se identifica com os princípios filosóficos e religiosos da artista ganha minutos para simplesmente pensar na vida –com tudo incluído: alegrias, perdas e a necessidade de seguir adiante. Por isso, o documentário existe e vale.
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