Na Mostra, brasileiros radicalizam em três filmes fora do convencional
O amor nos tempos do Tinder. É um pouco do que propõe "Linha de Fuga 2.0", filme do diretor paulista Alexandre Stockler, que estreia na Mostra nesta sexta (23), às 22h15, no Espaço Itaú –Augusta 1.
O longa tem uma premissa até que simples: um homem e uma mulher que não se conhecem conversam pela web: trocam experiências amorosas, fazem citações (Julio Cortázar, Glauco Mattoso) e descambam para o sexo virtual.
Inusitada é a forma: as câmeras, posicionadas na altura da cabeça dos atores, nunca deixa mostrar o rosto deles e cria sensação de subjetividade, "para o público viajar na história", afirma Stockler.
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Cena do filme "Linha de Fuga 2.0" |
"Não é só sobre sexo, é muito mais sobre solidão e dificuldades de relacionamento nos dias de hoje", diz o diretor. "As transas têm rolado mais fácil com esses aplicativos de paquera [como o Tinder], internet. Mas existe uma recusa ao toque", afirma Stockler, que se autodefine como um "débil mental" no quesito tecnologia.
O filme integra um projeto maior de Stockler: o mesmo roteiro, inspirado em peça homônima dos anos 1990, embasará dois longas não finalizados: um falado em inglês, e outro com 50 atores em vez dos dois.
Os intérpretes de "Linha de Fuga 2.0", cujos nomes o diretor pede para não revelar "para não estragar o barato do público", foram proibidos de ter contato pessoal. Ensaiaram pela internet. Uma dica: um deles atua em novelas globais.
Manejando as câmeras, os atores seguem o roteiro, mas controlam o quanto expõem: vez ou outra deixam entrever a própria nudez –tabu com o qual Stockler já havia trabalhado em "Cama de Gato"(2002).
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Joana de Verona em "O Touro" |
Nesse longa, a cena em que o personagem de Caio Blat estupra uma adolescente gerou polêmica. O diretor diz ter ficado horrorizado com as reações: "As pessoas viam aquela cena forte e ainda ficavam excitadas com a menina", diz.
"O Touro", da estreante brasiliense Larissa Figueiredo, também coloca atores em situações de imprevisibilidade, assim como "Linha de Fuga".
A diretora chamou a atriz portuguesa Joana de Verona para interagir com os moradores da pequena ilha de Lençóis, no Maranhão, onde, reza a lenda, o rei português Dom Sebastião (1554-78) vaga na forma de touro mágico.
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Cena do filme "Tropykaos" |
"Tratar do sebastianismo numa ilha do Maranhão foi a forma de lidar com as minhas origens", diz Larissa, filha de português com maranhense.
O filme passa hoje, às 19h15, no Espaço Itaú–Frei Caneca.
Se "O Touro" remexe a cultura típica, "Tropykaos", de Daniel Lisboa, subverte clichês da baianidade. No filme, o poeta Guilherme (Gabriel Pardal) perambula por Salvador em estado delirante: sente-se assolado por um calor infernal, fruto de raios "ultraviolentos".
"Quis levar o lado B da cidade às telas. Sou um baiano não adaptado à Bahia estereotipada de praia, axé, essas coisas", diz Lisboa. O filme será exibido hoje às 21h30, no Espaço Itaú –Frei Caneca.
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editoria de arte/Folhapress |
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