Ficção de Morrissey deixa sensação de 'escute os álbuns, mas não leia o livro'
Se Morrissey estava contando com a literatura como possível "plano B" caso sua carreira musical não tenha futuro, melhor esquecer.
Lançado no mês passado, "List of the Lost" (Penguin), seu primeiro romance, é uma decepção para quem buscava encontrar aí o autor de algumas canções clássicas do pop/rock da década de 1980.
Não é possível entrever, nessas 120 páginas de escrita confusa e enredo inverossímil, o mesmo cara que compôs coisas como "The Boy With the Thorn in His Side".
A mídia britânica foi implacável. Para o jornal "Guardian", "todos os que levaram esse livro a ser impresso deveriam se enforcar". Já a revista "New Statesman" pergunta: "Não havia ninguém que pudesse impedir Morrissey de publicar isso?". Enquanto o diário "Financial Times" sentenciou: "As cenas de sexo vão além do bizarro".
O romance se passa nos EUA, nos anos 1970, e conta a história de quatro garotos de 20 anos e belos corpos que integram um time de corrida.
Numa caminhada por um bosque, eles encontram um homem a quem terminam assassinando. A partir daí, inicia-se uma série de mortes, enquanto os garotos se metem em outra trama. Levados por um fantasma (isso mesmo), eles buscam saber o que aconteceu com um bebê que teria sido abusado e morto.
Não pense que a trama carece de sentido porque aparece aqui de forma resumida. Mesmo com espaço, a sucessão de acontecimentos continua delirante, além de ser preenchida por digressões que passeiam por obsessões do cantor.
As divagações contemplam análises do governo britânico pós-Segunda Guerra e a Inglaterra durante os anos da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-90), inimiga número 1 de Morrissey.
Enquanto isso, as cenas de sexo entre os dois amantes, Ezra e Eliza, chamaram a atenção de leitores e críticos pela linguagem empolada e cafona, fazendo do livro um favorito para a próxima edição do Bad Sex Award.
O Morrissey das belas canções só é reconhecido porque deixa expostas suas preocupações de longa data. Na lista estão a morte, praticamente o principal personagem da trama, a política do século 20, e o corpo de jovens rapazes. Uma sutil e incômoda misoginia embala a sucessão de fatos desconexos.
Talvez se o autor enveredasse por outro gênero, o do ensaio, o livro poderia ter sido melhor sucedido. Colocar todas essas questões num enredo dramático e curto sem habilidade de romancista resultou num fracasso.
Após ler "List of the Lost", aqueles que cresceram influenciados pelas letras dos Smiths só têm a torcer para que Morrissey insista na carreira musical. Ou se aposente. A literatura não é para você, Moz.
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