Ariana Grande fica devendo simpatia, mas mostra talento de sobra em SP
Um batalhão de meninas pré-adolescentes se armou com suas tiaras em formato de orelhas de gato para esperar Ariana Grande, 22, na fila do Allianz Parque neste domingo (25). A cantora se apresentou pela primeira vez no Brasil com a turnê Honeymoon, baseada no repertório de "My Everything" (2014), seu segundo disco.
A expectativa dos fãs para a ver o ídolo –que desembarcou no Rio de Janeiro no último sábado (24) antes de vir a São Paulo, sem falar com os fãs no aeroporto– levou a episódios de histeria coletiva, em que qualquer sombra era interpretada como Ariana. Ansiosos pelo atraso de mais de duas horas na abertura dos portões devido a problemas na passagem de som, os pagantes chegaram a confundir as pessoas no estacionamento do estádio com a cantora.
Parte do público, que dificilmente passava dos 20 anos, veio direto das salas em que prestaram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Anunciado em agosto, o conflito na agenda teen levou a um abaixo-assinado organizado pelos fãs, sem sucesso. Se resultante ou não, fato é que os pouco mais de 25 mil ingressos disponibilizados para o show no Allianz Parque não esgotaram.
Bruno Gama, 19, terminou a prova e foi direto para a fila da apresentação. "Ainda estou carregando meus cadernos e minhas canetas", conta.
"As pessoas de São Paulo ainda conseguem sair da prova e vir para o show, mas e o pessoal dos outros Estados? O Enem complicou bastante", diz o estudante Ubirajara dos Santos, 18. Integrante da equipe do site "Ariana Grande Brasil", ele veio de Minas Gerais para acompanhar o show.
Alguns abandonaram o exame na metade. Ana Carolina Correia, 15, aproveitou o fato de não estar em ano de vestibular para treinar seus conhecimentos apenas no primeiro dia. No segundo, foi com a mãe, Regina, 46, ao estádio do Palmeiras.
"Acho que o Enem interferiu muito para estar mais vazio, além de estar muito caro. Fui com a minha filha ao show do Justin Bieber e era mais acessível", opinou Regina.
Fãs mais engajados, porém, nem cogitaram prestar o exame e acamparam na fila por 15 dias para garantir um lugar junto à grade do palco. Em quatro turnos (manhã, tarde, noite e madrugada), 22 pessoas se revezaram para ver Ariana mais de perto.
"Já até passei mal na fila, não sei se de pressão baixa ou ansiedade", conta Robson da Cunha, 22. No sábado, ele deixou os amigos para ir recepcionar a cantora no aeroporto.
"Fiquei 12 horas no aeroporto a esperando, mas ela não chegou a falar com a gente. Cheguei a ficar frente a frente, mas ela se assustou e voltou. Acho que ficou com medo porque o pessoal fez muito barulho."
Mesmo com os preços acima da média –o show de Katy Perry, por exemplo, tinha o ingresso mais caro a R$ 580; para ver Ariana, fãs chegaram a desembolsar R$ 660–, muitos dos que se enfileiravam nas entradas do estádio se deslocaram de outros Estados do Brasil. Wallison Lucena, 21, é um deles:
"Gastei quase mil reais para vir de Brasília. Deixei de prestar o Enem, mas valeu a pena", diz.
O SHOW
As luzes se apagaram com 18 minutos de atraso. Cercada por seus dançarinos, Ariana cantou por três e puxou o coro da plateia em "Bang Bang", canção que divide com Jessie J e Nicki Minaj. De preto e com as orelhas de gato, ela se emocionou com a recepção calorosa do público.
Ariana tentou muito. Tentou acompanhar os dançarinos, impressionar com os figurinos (um deles, inspirado nos anos 1920, é todo composto por plumas cor-de-rosa), ser sensual e segurar o show com sua presença de palco, que não impressiona. Conciliar tudo, é claro, não deve ser tarefa fácil, mas outras artistas pop, como Beyoncé, já mostraram ser possível.
Mesmo com todos os artifícios, é mesmo a música que fica em primeiro plano. É inegável o talento vocal de Ariana: ao longo das 15 faixas apresentadas, ela cumpre a cartilha da maratona vocal a que se propôs com notas altas e registros de apito, que deixariam suas contemporâneas Demi Lovato, Miley Cyrus e Selena Gomez envergonhadas. Quando dispensa os dançarinos e opta por uma atmosfera mais intimista na balada "Tattooed Heart", segura bem as pontas. Mariah Carey, com quem é exaustivamente comparada, já pode se orgulhar.
Apesar de ser reconhecida por sua sonoridade inclinada ao R&B, Ariana não esconde sua vocação marcadamente pop. Do começo ao fim do show, o backdrop futurista e as luzes cor-de-rosa são apostas no glamour fácil, simples e pouco inovador do gênero.
Para os fãs, ficaram faltando canções favoritas e mais simpatia. Em português, Ariana só arriscou um tímido "obrigada", que em nada lembrou o festival de carisma de Katy Perry, última cantora pop a se apresentar no Allianz Parque antes dela.
"O show foi maravilhoso, mas senti falta de "Baby I", "Why Try" e de mais interação com o público. Ela parece não ter se esforçado tanto nesse sentido", opina Wallison Lucena.
Em determinado momento, Ariana deu sinais de que retribuiria o carinho e presentearia os fãs brasileiros com a primeira apresentação de "Focus", seu próximo single, mas ficou só na provocação. Resta esperar o lançamento da canção na próxima sexta-feira (30). Enquanto isso, fica aos brasileiros o gosto de "quero mais".
Confira a setlist do show
1. "Bang Bang"
2. "Hands on Me"
3. "Best Mistake"
4. "Break Your Heart Right Back"
5. "Be My Baby"
6. "Right There"
7. "The Way"
8. "Pink Champagne"
9. "Tattooed Heart"
10. "One Last Time"/"What Do You Mean"
11. "My Everything"
12. "Adore"/"Lovin' It" (DJ Dubz)
13. "Love Me Harder"
14. "Honeymoon Avenue"
15. "Break Free"
16. "Problem"
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