Programe-se: Semana na TV tem Godard, Spielberg e Coppola
SEGUNDA-FEIRA (26)
O TCM anuncia para as 22h "O Enigma do Outro Mundo". Qual versão? A revista de programação da Net anuncia a versão de 1951, de Christian Niby; o site do canal, o "remake" de John Carpenter, de 1982.
No caso, dá para ficar com as duas versões. Ambas envolvem um grupo de cientistas isolados no Ártico que descobrem a presença de um terrível alien.
O filme de 1951 tem o encanto das ficções científicas paranoicas do pós-guerra e um tipo de rigor à altura do produtor (Howard Hawks), que muitos dizem ter de fato dirigido o filme.
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Cena do filme "O Enigma do Outro Mundo" (1951) |
O "remake" de John Carpenter é também muito talentoso (só a cena do cachorro correndo na neve vale o filme) e fiel ao argumento original. Mais provável: que passe o filme de 1982. O TCM há muito descurtiu os filmes preto-e-branco.
Outro enigma: se tanta gente compra filmes P&B em DVD por que os despreza um canal supostamente dedicados a filmes clássicos?
TERÇA-FEIRA (27)
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O ator Viggo Mortensen (em pé) em cena do filme "Senhores do Crime" (2007), de David Cronenberg |
Entre tantas injustiças que Hollywood comete, uma janela de justiça: Adrian Lyne sumiu do mapa. Sua cosmética vulgar teve alguma voga quando o inglês emplacou "Flashdance", "9 ½ Semanas de Amor" e "Atração Fatal", nos anos 1980.
Outro momento de sua carreira é "Proposta Indecente" (1993, Paramount, 18h45), em que Robert Redford oferece uma fortuna a um marido para transar com sua mulher, Demi Moore.
O que vem depois é o xis da história: melhor não falar a respeito. Mas vale uma sugestão: que tal dar uma olhada em "O Desprezo", que Godard filmou em 1963 e que versa, mais ou menos, sobre o mesmo tema? Será uma aula de cinema comparado. O vulgar e o raro.
O dia ainda traz algumas sugestões de filmes bem distintos entre si: "Senhores do Crime" (2007, Cinemax, 16h35), de David Cronenberg, ou "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (1968, Canal Brasil, 13h35), de Roberto Faria.
QUARTA-FEIRA (28)
Há caras de que a maioria dos espectadores nunca ouviu falar, mas que determinam ou determinaram muito do que assistimos e amamos.
Um desses é Jack Warner. Dos irmãos responsáveis pela Warner Brothers, foi o mais próximo da produção. O documentário "Jack Warner" (1993, Curta!, 21h e 1h) tentará dar conta desse pioneiro, um desses seres famosos pela violência e o autoritarismo, mas cuja competência ninguém punha em questão.
Já "Vampiros de Almas" (1956, TC Cult, 22h) é a fantástica ficção de Don Siegel sobre alienígenas que invadem a Terra e passam a ocupar os corpos dos seres que absorvem, produzindo réplicas perfeitas, só que mortas.
Metáfora das lavagens cerebrais atribuídas aos comunistas? Pode ser. Mas, com ou sem lavagem, o filme se aguenta: o sentido de mistério e urgência que Siegel imprime à narrativa faz parte dessa luz própria que o mantém vivo e forte.
QUINTA-FEIRA (29)
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Christian Bale aos 13 anos em cena do filme "Império do Sol", de Steven Spielberg |
"Império do Sol" (1987) é o filme certo para passar onde vai passar, no canal HBO Family (às 23h18). Pois é de sua família que o jovem James se perderá na confusão de uma Segunda Guerra que começa na China e que ele passará, inteira, à deriva.
"Império" é desse momento incômodo em que Steven Spielberg buscava prestígio e Oscar. Sem perder audiência, porém.
De maneira que o resultado é bem misto: a fabulosa aventura escrita (e vivida, o que é mais espantoso) por J.G. Ballard (o mesmo do "Crash" de Cronenberg) encontra uma realização meio pasteurizante, como a indicar a indecisão de Spielberg sobre o caminho a tomar.
Há opções a reter no Canal Brasil, em todo caso: "Absolutamente Certo" (1957, 13h15), de Anselmo Duarte, "Amélia" (2001, 15h45), de Ana Carolina, "Pequeno Dicionário Amoroso" (1997, 22h), de Sandra Werneck, e "A Freira e a Tortura" (1983, 0h20), de Ozualdo Candeias.
SEXTA-FEIRA (30)
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Cena de "Acossado", de Jean-Luc Godard |
"Acossado" (Arte', 0h) foi um acontecimento quando surgiu, em 1959, e nunca mais deixou de ser. Hoje não é raro que os filmes de Godard sejam detestados por uma parte da audiência.
Talvez seja interessante (e já nem se fala da retrospectiva em curso no CCBB) acompanhar um pouco de sua trajetória cronologicamente. De certo modo, "Adeus à Linguagem" já está em seus primeiros filmes, e mesmo neste, o primeiro (longa).
A mesma paixão por abrir a linguagem, permitir que os significados invadam o seu filme, que o mundo e a ficção se interpenetrem, tudo isso já está lá (mas num estágio bem mais suave, digamos assim, do que hoje).
O que em Godard mais costuma confundir e revoltar o público é que somos acostumados a seguir uma direção, a acompanhar uma história. Em seus filmes, como no mundo real, não se pode seguir todos os significados. Mas os que captamos bastam.
SÁBADO (31)
Depois de muito quebrar a cara, Francis F. Coppola saiu-se com essa inesperada obra-prima que é "Tetro" (2009, Futura, 22h).
Ali, um jovem viaja a Buenos Aires, ao encontro do irmão mais velho (e seu herói). É uma espécie de tentativa de saber por que Tetro optou por viver bem longe da família.
O que se segue é um longo acerto de contas com a poderosa figura paterna: um grande maestro, autoritário, potente a ponto de inviabilizar a existência dos filhos, de Tetro em particular.
Esse mergulho na dor de uma relação em si complexa (pai/filho), potencializada pelo caráter esmagador que tem aqui, em vez de resultar num drama psicológico, dá numa espécie de épico do sofrimento humano. Daí, talvez, seu fracasso de público.
Logo a seguir (0h), "Quebrando a Cara" (1983, Cultura), belo documentário de Ugo Giorgetti sobre Eder Jofre, a família Zumbano e o boxe em geral não é para ser perdido.
DOMINGO (1º)
Bruno Veiga/Divulgação | ||
Surica, uma das pastoras da Velha Guarda da Portela, com Marisa Monte na gravação da última cena do filme "O Mistério do Samba" |
Melhor dizer logo de cara: a imagem de "O Mistério do Samba" (2008, Curta!, 18h30) é uma confusão. Mas é preciso dizer, logo em seguida, que o menos importante neste filme é a imagem.
Afinal, os realizadores, Lula Buarque e Carolina Jabor, se empenharam em trazer para o cinema uma bela pesquisa de Marisa Monte, a cantora, sobre a chamada Velha Guarda da Portela.
O que se ganha: uma música nem sempre tão conhecida quanto deveria é revelada, assim como seus autores, as cabrochas, o tipo de passo típico da Portela etc. O que não se ganha: uma relação mais forte com o meio, o modo de viver de uma época, o tipo de mundo que o engendra (não se fala em jogo do bicho, por exemplo).
Por falar em música, o mesmo Curta! exibe às 17h documentário de 25 minutos dedicado a Walter Franco, um dos compositores brasileiros mais radicais e menos conhecidos que surgiram de 1970 em diante no Brasil.
Livraria da Folha
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