OPINIÃO
Nós, homens, somos os reais marcianos em 'Perdido em Marte'
É difícil assistir ao filme "Perdido em Marte" sem se emocionar. Um astronauta sozinho, usando todos os recursos que pode imaginar para se manter vivo num planeta hostil, é uma metáfora poderosa, símbolo da individualidade de cada um de nós.
Também lutamos –muitas vezes sós– pela nossa sobrevivência física e emocional numa vida que nem sempre é fácil e aconchegante. O filme, dirigido por Ridley Scott ("Blade Runner") e baseado em romance de Andy Weir de 2011, é um elogio à criatividade humana.
É bom lembrar que 10 mil anos atrás mal havíamos desenvolvido técnicas agrárias. Hoje, lançamos sondas aos confins do sistema solar, incluindo nosso misterioso vizinho vermelho. E elas nos trazem imagens surpreendentes, habilmente usadas no filme.
Cânions de milhares de quilômetros de extensão, leitos de antigos rios e vulcões extintos provam que Marte era um mundo muito diferente na sua infância, onde a água fluía em abundância, e a atmosfera era bem mais espessa.
Hoje, Marte é um deserto gelado, com tempestades de areia terríveis e atmosfera fina (96% de gás carbônico), incapaz de bloquear a radiação ultravioleta que vem do sol.
Mesmo com a descoberta de água líquida na superfície marciana, a vida lá é improvável. Somos nós os marcianos. O filme é um contraste entre a hostilidade da natureza e a gana que temos pela vida.
O astronauta Mark Watney (Matt Damon, excelente) nunca perde sua humanidade. Une o bom humor a um enorme conhecimento científico (a botânica que usa para plantar batatas é uma das muitas áreas que domina) para suplantar dificuldades absurdas.
Em meio à ficção científica, encontramos uma mensagem poderosa: heróis não são apenas os que lutam em guerras, mas os que redefinem os limites do possível –incluindo astronautas e cientistas.
MARCELO GLEISER é professor titular de física, astronomia e filosofia natural no Dartmouth College, EUA. Seu livro mais recente é "A Ilha do Conhecimento" (Record).
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