CRÍTICA
Líder humanista Betinho ganha boa homenagem em documentário
Luta contra a ditadura, pela anistia, por tratamento a aidéticos, para banir a fome. O nome de Betinho está associado a todas essas batalhas que galvanizaram os brasileiros nas últimas décadas. Líder humanista, sonhador e obstinado, ele é uma unanimidade e virou um ícone das causas sociais do país.
"Betinho, a Esperança Equilibrista", documentário de Victor Lopes, recupera um pouco dessa trajetória intensa e tão cheia de percalços. Com 15 anos, ele quase morreu por causa de uma tuberculose. Hemofílico, como os irmãos, o cartunista Henfil e o músico Francisco Mário, foi contaminado numa transfusão com o vírus HIV e enfrentou a Aids.
Defensor do socialismo, militou contra a ditadura na Ação Popular, de raízes católicas. Perseguido, foi para o Chile, onde chegou a redigir os discursos de Salvador Allende. Depois de oito anos de exílio, desembarcou aqui logo que a anistia saiu, em 1979.
O "irmão do Henfil", cantado por Elis Regina em "O Bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, finalmente estava no país. Num de seus momentos mais emocionantes, o documentário recupera as imagens da chegada ao aeroporto.
Divulgação | ||
Betinho em cena do documentário de Victor Lopes |
Em prantos, Betinho pede tempo para sentir o que está acontecendo. Henfil, sempre afiado, dispara: "Foi uma vitória danada do nosso time, o povo brasileiro".
Na retomada de vida no Brasil, Betinho, sociólogo, criou um instituto de pesquisa. Mas sua preocupação estava muito além do mundo acadêmico. O que ele queria era ação. Assim, enveredou na luta contra a fome. Levou sua proposta até o então presidente Itamar Franco, que a encampou.
Sua obstinação com o combate à miséria originou uma campanha de mobilização nacional, a Ação da Cidadania, reunindo artistas, intelectuais, gente de todo o lugar. Betinho afirmava que a democracia é incompatível com a miséria. E a miséria não cai do céu; é uma produção humana.
O documentário retrata esses momentos, ouvindo personalidades como Chico Buarque, Theotônio dos Santos Jr., José Serra. Apesar de lembrar que a determinação do ativista levou a criação de políticas governamentais, o filme não toca no Bolsa Família _programa que ecoa os ideais defendidos por ele. Hoje, o Brasil saiu do mapa da fome.
Ao mesmo tempo, divaga sobre qual seria a posição do sociólogo nas manifestações de 2013. Advogado de ações concretas, Betinho achava que primeiro os cidadãos precisavam agir para pressionar o governo a tomar medidas.
Na luta contra a Aids, que levou em apenas um mês seus dois irmãos, ele também inovou. Suas cobranças por um melhor serviço de saúde, controle nos bancos de sangue e tratamento aos infectados sensibilizaram o país, que passou a ter programas que são referência mundial na prevenção e no trato da doença.
Herbert José de Souza (1935-1997), o Betinho, recebe uma boa homenagem no trabalho de Lopes, especialmente na recuperação das entrevistas. Nelas, o sociólogo se defende de adversários, faz autocríticas, chora.
Sem se arriscar no terreno político, o filme compõe um mosaico amplo de uma das figuras mais queridas dos últimos tempos.
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