CRÍTICA
Roteiro pobre faz de 'Até que a Casa Caia' um drama moralista
O brasiliense Mauro Giuntini estreou em longas com o drama "Simples Mortais" (2007), sobre famílias disfuncionais e tipos frustrados. "Até que a Casa Caia", o segundo, segue caminho semelhante ao mostrar uma família com curiosa configuração e personagens problemáticos. Mas o filme pretende ser uma comédia.
Apesar de separados, Rodrigo (Marat Descartes) e Ciça (Virginia Cavendish) continuam a viver sob o mesmo teto, um minúsculo apartamento de três quartos em Brasília, por razões financeiras.
O arranjo pouco usual coloca o casal em situações de conflito e faz Mateus (Emanuel Lavor), filho adolescente do casal, alimentar a esperança de que os pais reatem.
Divulgação | ||
Virginia Cavendish e Marat Descartes vivem casal que, mesmo separado, dividem o mesmo teto e buraco em Brasília |
Rodrigo é professor de um curso de alfabetização de adultos, mantido por uma ajuda do governo que corre risco de corte. Para salvá-lo, ele pede ajuda a um deputado.
Pintado como idealista, Rodrigo é uma figura ridícula, que dá aulas com um nariz de palhaço e aceita, depois de breve relutância, participar de uma rede de maracutaias envolvendo o tal deputado e um grupo de empresários.
Ciça também é marcada pelo escracho. É mostrada como uma mulher fútil, mística de pacotilha que trabalha em casa fazendo consultas astrológicas para clientes tolos.
O delicado equilíbrio familiar é abalado com a irrupção de um quarto personagem igualmente estereotipado: Leila (Marisol Ribeiro), a secretária do deputado, que Rodrigo começa a namorar e que vai praticamente morar no apartamento dele. Leila é o clichê da loira simplória, disposta a tudo para "subir na vida".
Esses personagens esculhambados poderiam render situações cômicas em um roteiro inteligente, mas não é o que acontece aqui. Depois de uma primeira parte com raros momentos engraçados, o filme envereda para o drama.
Torna-se um drama familiar moralista ao colocar em posição central a corrupção a partir de outro clichê: em Brasília, todos são corruptos.
Rodrigo, Leila e Mateus têm de lidar com a corrupção. Dos três, só Leila acaba maculada por esse pecado. Nada mais previsível, afinal, ela é a estranha no ninho familiar. O desfecho conformista, que reafirma os sacrossantos valores da família e do casamento, não surpreende.
Os atores principais mostram qualidades, mas sofrem com as fragilidades do roteiro.
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