Ex-diretor do Municipal é investigado sob suspeita de cobrança de propina
O ex-diretor-geral do Theatro Municipal de São Paulo José Luiz Herencia é investigado sob suspeita de cobrança de propina e realização de espetáculos superfaturados. Ele esteve no comando das contas do teatro desde o início de 2013.
O Gedec (Grupo Especial de Delitos Econômicos), do Ministério Público, e a CGM (Controladoria Geral do Município) realizaram operação nesta quinta-feira (17) para cumprir quatro mandados de busca e apreensão em locais relacionais com Herencia. Na apreensão, foram encontrados documentos do Theatro Municipal e também duas armas.
De acordo com as investigações, Herencia, por meio da Fundação Theatro Municipal, teria recebido propina em contas bancárias em seu nome e no de sua mãe. Apenas em seis meses de 2014 a movimentação nessas contas chegou a R$ 3 milhões, segundo a investigação.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
O ex-diretor do Theatro Municipal José Luiz Herencia |
O prejuízo estimado às contas municipais chega à casa dos R$ 20 milhões.
Os responsáveis pela investigação mapearam várias empresas supostamente usadas para lavar dinheiro e o crescimento patrimonial suspeito de Herencia.
A investigação agora apura a atuação de Herencia como secretário de Políticas Culturais, no Ministério da Cultura, em 2009 e 2010, e também como presidente da Associação Amigos do Museu de Arte Moderna.
'VISÕES DISTINTAS'
Herencia deixou o cargo de diretor do teatro em novembro após pedido de exoneração. Em comunicado, ele atribuiu sua saída a motivos de "caráter pessoal e irrevogáveis" e pediu que "divergências pessoais, interferências exteriores ou o embate entre visões distintas (...)" não comprometessem as atividades da instituição.
A Folha apurou que ele e o diretor artístico da casa, o maestro John Neschling, estavam brigados e discordavam sobre como gerir a casa.
Durante visita a Cidade Tiradentes, o prefeito Fernando Haddad (PT), disse que Neschling apresentou à prefeitura "uma preocupação muito grande porque estávamos chegando no final do ano e o orçamento da fundação pactuado com a administração não estava sendo cumprido."
"A situação ficou grave e, com saída de Herencia [do Municipal], eu encaminhei para a CGM um pedido de averiguação", contou o prefeito. "Não quero acusar ninguém, mas é preciso elucidar a questão."
Uma nota oficial sobre o caso foi divulgada pela prefeitura na tarde desta quinta (leia íntegra abaixo).
Quem assumiu o cargo de diretor, cerca de uma semana depois do pedido de exoneração de Herencia, foi o advogado Paulo Dallari, ex-chefe de gabinete de Haddad.
OUTRO LADO
Herencia diz que recebeu "com surpresa" a notícia de que estava sendo investigado pelo Ministério Público e pela Controladoria do Município.
"Forneci todos os documentos solicitados pelo Ministério Público Estadual", disse à Folha. Para ele, "a apuração da Controladoria Geral do Município tem clara conotação política."
"É evidente como reação a meu posicionamento quando optei por deixar a direção geral da Fundação Theatro Municipal, justamente por discordar de uma série de episódios que identifiquei à frente da instituição."
Em relação às armas encontradas em seu apartamento, ele diz que é atirador credenciado e tem registro formal do armamento e de munição no Ministério do Exército e na Polícia Federal.
"Por essa razão, fui prontamente liberado", afirma. (Colaborou Guilherme Brendler)
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Leia nota oficial da prefeitura sobre o caso
"A Prefeitura de São Paulo informa que uma operação conjunta da Controladoria Geral do Município e do Ministério Público (Grupo Especial de Delitos Econômicos) foi realizada hoje pela manhã para cumprir mandados de busca e apreensão na residência do ex-diretor da Fundação Theatro Municipal José Luiz Herência e em outros três locais.
Hoje pela manhã, em Cidade Tiradentes, o prefeito Fernando Haddad informou que, após a demissão de José Luiz Herencia da direção da Fundação Theatro Municipal, solicitou à Controladoria Geral do Município uma averiguação completa das contas daquela entidade. "Passa a limpo tudo o que aconteceu. Nós não vamos tolerar, como nunca toleramos o desvio de um centavo sequer."
A Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Theatro Municipal de São Paulo estão colaborando com o Ministério Público e a Controladoria-Geral do Município e não se pronunciarão para não prejudicar as investigações em andamento."
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