CRÍTICA
Francês conduz com leveza trama fantasiosa em 'O Fio de Ariane'
Poucos casamentos entre cineastas e intérpretes deram tão certo quanto o do diretor francês Robert Guédiguian e da atriz Ariane Ascaride.
O de Ingrid Bergman e Rossellini se esboroou após cinco longas. A parceria de Fellini com Giulietta Masina nos filmes foi mais irregular do que na vida. Ingmar Bergman foi mais fiel às atrizes na direção do que em relacionamentos.
A filmografia de Guédiguian e Ascaride é a exceção que confirma a regra. Dos 19 longas dirigidos por ele desde 1981, sua mulher e atriz só não aparece em "O Último Mitterrand" (2005) e em "O Exército do Crime" (2009).
Divulgação | ||
Adrien Jolivet e Ariane Ascaride no filme 'O Fio de Ariane' |
A fidelidade se reafirma em "O Fio de Ariane", uma assumida fantasia de um cineasta mais conhecido por dramas sociais realistas com tipos populares de Marselha.
O título anuncia que se trata de um filme com e para ela. Mas a coincidência do nome da atriz com o da personagem não esgota as brincadeiras.
Em fuga da vida rotineira, Ariane enreda-se, como a protagonista de "Julieta dos Espíritos" do casal Masina-Fellini, num universo paralelo.
O termo evoca a mitologia grega, o laço que une Ariadne e Teseu quando ela lhe dá um novelo para que ele fuja do labirinto do Minotauro.
As peripécias de Ariane ainda se assemelham às da menina Alice de Lewis Carroll.
Mas "O Fio de Ariane" narra experiências mais prosaicas, como reinventar afetos, descobrir modos de vida diferentes dos de uma dedicada dona de casa e solitária e deixar-se fascinar por tipos comuns e cheios de histórias.
Num restaurante na periferia de Marselha, Ariane passa de cliente a garçonete sem trocar de roupa, dorme num barco e vive uma grande aventura noturna. Ascaride embarca na personagem com a mesma leveza que Guédiguian conduz a narrativa, sem pretender discursar sobre a liberdade e sem se preocupar com o que os outros vão dizer.
Essa quase displicência pode decepcionar admiradores da crítica social de Guédiguian vista em "Marius e Jeanette" (1997) e "A Cidade Está Tranquila" (2000).
Comparado a estes, "O Fio de Ariane" parecerá um filme menor, o que não quer dizer que seja um filme irrelevante.
A ideia não é fazer um discurso sobre as iniquidades da existência, mas celebrar um amor duradouro e os prazeres da vida.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade