Comédias sobre a diversidade cultural espanhola batem recordes no país
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Os atores Karra Elejalde (à esquerda) e Dani Rovira em cena do filme "Ocho Apellidos Catalanes" |
Dentro da Espanha existe um "país", o País Basco, com idioma e cultura próprios. Reza a lenda que quem ali nasce -e preza por sua origem - tem que ter no mínimo oito "apellidos" (sobrenomes) procedentes da região.
É por isso que o burlesco Rafa (Dani Rovira), da religiosa Andaluzia (sul da Espanha), esconde seu sotaque e jura ter não oito, mas 16 sobrenomes bascos para conquistar a confiança de Koldo (Karra Elejalde), pai de Amaia (Clara Lago), uma autêntica basca por quem se apaixonou.
Nascida no território que foi berço do grupo separatista ETA, a moça propicia boas piadas para "Ocho Apellidos Vascos" (oito sobrenomes bascos). Os amigos de Rafa temem que ela esteja em Sevilha à procura de um "piso franco", como ficaram conhecidas as casas onde os extremistas escondiam seus armamentos.
O filme é o mais visto da história do cinema espanhol (nove milhões de pessoas, ou 20% da população local).
"Ocho Apellidos Catalanes", a sequência do longa, repetiu o êxito e teve 260 mil espectadores só na sexta-feira de estreia, em 20/11, segundo a consultoria Rentrak. Até o momento, a produção arrecadou metade dos 56 milhões de euros de seu antecessor.
Já vendido para alguns países da América Latina, "Ocho Apellidos Catalanes" está sendo negociado para entrar no circuito brasileiro.
"Há muitas piadas regionais, mas se trata de uma comédia. Logo, está cheia de códigos universais", diz à Folha o corroteirista Borja Cobeaga.
PALAVRÕES POLIGLOTAS
No primeiro filme, Rafa conhece Amaia num festival de flamenco. Passam a noite juntos, mas, enquanto o jovem prepara o café da manhã, a moça parte sem se despedir. O "sapatinho de cristal" moderno é o celular, esquecido ali. O andaluz parte para reencontrá-la na capital basca.
No segundo longa, o casal está separado, e as novas peripécias amorosas têm como cenário a separatista Catalunha, onde Amaia pretende se casar com um catalão meio hipster, para desespero de Koldo. Decidido a impedi-la, o pai atravessa pela primeira vez as fronteiras de Euskadi (País Basco, na língua local) a fim de pedir ajuda a Rafa, que está de volta a sua terra natal.
Quando os quatro se encontram numa cidadezinha catalã fictícia que se autoproclamou independente da Espanha, os "tacos" (palavrões) trocados são insultos "poliglotas" (a Espanha tem quatro línguas oficiais). "As pessoas me dizem que se veem naquelas situações e riem de si mesmas", conta Emilio Martínez-Lázaro, diretor do longa.
"A tradição andaluza é uma herança dos árabes, que dominaram a Espanha por oito séculos. Já os bascos sempre viveram exilados, nem Napoleão conseguiu chegar lá", diz.
Ele continua: "Os catalães são os nossos melhores comerciantes. Hoje, habitam a região mais rica e não se identificam com o restante do país".
Os estereótipos regionais se perpetuam no segundo filme, mas acompanhados de "um enredo mais complexo", diz Borja. Emilio concorda: o separatismo não é "suavizado" na história, e sim tratado com "um olhar mais divertido".
Mais conhecido por suas comédias, foi com um drama, "As Palavras de Max" (1978), que o diretor recebeu o Urso de Ouro do Festival de Berlim.
"A comédia é vista como como um gênero inferior, pois parece otimista. Mas humor vem de uma visão irônica e pessimista da sociedade."
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