CRÍTICA
Escolha de elenco certo faz filme 'Pai em Dose Dupla' funcionar
Will Ferrell é uma espécie de Leandro Hassum dos Estados Unidos. Veio da TV, depois de reinar por algumas temporadas no programa humorístico "Saturday Night Live". No cinema, ele erra e acerta, mas sempre puxa boas bilheterias.
Lançado no dia do Natal nos cinemas americanos, "Pai em Dose Dupla" arrecadou naquele país quase US$ 140 milhões (cerca de R$ 570 milhões) em um mês de exibição, o que não é pouco. Seus maiores méritos para isso são algumas boas piadas no roteiro e a acomodação adequada dos dois protagonistas a seus personagens.
Ferrell é melhor ator do que parece. Quando tem nas mãos um roteiro exigente, ele entrega uma boa atuação, como na comédia afiada "O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy" (2004) ou no drama do absurdo "Mais Estranho que a Ficção" (2006).
Quando parte para comédias mais rasteiras, Ferrell fica numa zona de conforto, criando tipos agradáveis que oscilam entre "o sacana de bom coração" e "o bobão que merece ser feliz".
Ainda assim, é o ator cômico mais valoroso de sua geração que veio da TV. Deixa para trás Adam Sandler, Jason Sudeikis e Andy Samberg, para ficar só entre seus ex-colegas de programa.
Em "Pai em Dose Dupla", seu personagem tem bom coração e quer ser feliz com os enteados. Tudo vai bem até que o ex da mulher dele e pai biológico dos garotos resolve aparecer e reconquistar a simpatia da prole.
Aí entra Mark Wahlberg, outro nome querido pelo público americano. Ator de personagens durões, mas com algum charme, ele tem uma coleção razoável de boas bilheterias ("O Planeta dos Macacos", "Ted") e bons desempenhos aqui e ali ("Os Infiltrados", "Boogie Nights").
"Pai em Dose Dupla" não requer esforço para Wahlberg. O ator empresta sorriso e tipo físico ao "bad boy" cativante, que surge com roupas de couro em cima de uma moto, uma figura irresistível para seus filhos acostumados ao estilo "bom moço" e careta do padrasto.
Não é difícil imaginar o desenrolar do filme. A competição entre os dois para conquistar as crianças gera um tanto de piadas óbvias. Mas é quando a trama foge delas que o diretor e roteirista Sean Anders demonstra ter algum talento. Ele escreveu há dois anos outra comédia divertida, "Família do Bagulho", com Jennifer Aniston.
"Pai em Dose Dupla" é cinema de distração, sem ofender a inteligência de ninguém. Quem considera o preço do ingresso caro pode esperar para vê-lo na TV. Tem toda a cara desses filmes que a Globo adora exibir e reprisar nas tardes de domingo, para ser visto enquanto a família espera a macarronada.
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