Festival de Berlim aplaude dramas brasileiros sobre sexualidade
Identidade é a tônica dos dramas brasileiros exibidos neste Festival de Cinema de Berlim. Identidade que esbarra na sexualidade, como mostram "Mãe Só Há Uma", de Anna Muylaert, e "Antes o Tempo Não Acabava", de Sérgio Andrade e Fábio Baldo.
"Esse não é um filme sobre se sentir bem, mas sobre se sentir autêntico", disse Muylaert, momentos antes de exibir seu filme em sessão lotada na noite da sexta (12).
O primeiro longa da diretora paulista após o furor de "Que Horas Ela Volta?" (2015) gira em torno da história de Pierre (Naomi Nero), adolescente que descobre ter sido roubado na maternidade e tem de se adaptar à nova família.
Seus pais biológicos (Matheus Nachtergaele e Dani Nefussi) também têm de se adaptar à transexualidade do filho, que começa a irromper.
Divulgação | ||
Dani Nefussi e Matheus Nachtergaele em cena de "Mãe Só Há Uma", de Anna Muylaert |
Comparado ao filme com Regina Casé, "Mãe Só Há Uma" é uma produção bem menor, mais econômica e que lembra mais os filmes do início da carreira de Muylaert, como "Durval Discos" e "É Proibido Fumar", com um olhar mais detido na sutileza dos gestos e nos diálogos espontâneos.
Apesar de a diretora ter introduzido o trabalho na defensiva, dizendo que relutou em voltar a Berlim após o filme anterior ter levado o prêmio de público, a nova obra foi bastante aplaudida. "Minha função não é fazer gols, é fazer flores", disse à plateia, lotada de brasileiros (como o cineasta Karim Aïnouz e o presidente da Ancine, Manoel Rangel).
A tônica sexual aparece já na primeira cena: Pierre transa com uma garota e a câmera revela que ele usa cinta-liga.
O filme ganhou elogios da revista "The Hollywood Reporter": "cheio de cenas rápidas e eficientes" e "elenco incrível", escreveu Jordan Mintzer.
A produção "Antes o Tempo Não Acabava" também não ignora a sexualidade ao tratar da busca de identidade do protagonista Anderson (Anderson Tikuna), que vive na zona cinzenta entre o mundo dos brancos e o mundo dos indígenas da periferia de Manaus.
O personagem foge da aldeia para se moldar na cidade grande: veste camiseta da banda Kiss, dubla Beyoncé na frente do espelho, transa com homens e mulheres.
"Talvez o Brasil ainda esteja se descobrindo, por isso todos esses filmes tratam de busca pela identidade", diz o manauara Andrade à Folha. Baldo, codiretor, completa: "Nessa busca há várias camadas, a sexualidade é uma delas."
A Berlinale também teve a estreia mundial do documentário nacional "Curumim", de Marcos Prado ("Estamira").
O filme conta a história de Marco Archer, brasileiro executado na Indonésia ao entrar no país com cocaína, caso relatado no livro "Condenado à Morte", do jornalista da Folha Ricardo Gallo (Três Estrelas, selo editorial da Folha).
Prado mostra a trajetória do ex-surfista que foi parar no corredor da morte. As cenas da prisão foram registradas com câmera escondida.
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Berlim
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