Catástrofe e utopia guiam drama e documentário no Festival de Berlim
Catástrofe e utopia se entrelaçam na competição do 66º Festival de Cinema de Berlim com as exibições de "Zero Days", do americano Alex Gibney, e "The Commune" ("Kollectivet", no original), do dinamarquês Thomas Vinterberg.
O primeiro é o novo documentário do diretor vencedor do Oscar na categoria por "Um Táxi para a Escuridão", que lança um alarme sobre uma guerra cibernética travada nos bastidores da política internacional.
O segundo, do ex-integrante do movimento Dogma 95, é um drama sobre um grupo de pessoas que resolve viver em comunidade nos anos 1970.
Divulgação | ||
Cena do filme 'The Commune' |
Recebido de forma morna em Berlim, "Zero Days" tem como pressuposto a descoberta de um vírus de computador poderoso que parecia notadamente endêmico no Irã.
O filme mostra que o malware havia sido confeccionado a mando dos governos dos EUA, Reino Unido e Israel por volta de 2010 como forma de sabotar o programa nuclear iraniano, estopim para que Teerã contra-atacasse e irrompesse uma guerra silenciosa ainda em curso.
Num mundo tão interconectado, sugere o filme, vírus criados por governos podem causar tragédias: apagões, alteração do curso de trens para provocar acidentes, etc.
"Esses vírus são armas", disse Gibney após a exibição do filme à imprensa. "Ninguém entende porque não se fala sobre o assunto, mas estamos todos vulneráveis, especialmente nos EUA."
Embora pouco inovador na forma, o documentário conta com depoimentos contundentes obtidos de integrantes da NSA, a agência de segurança que fez parte dessa guerra cibernética.
UTOPIA NÓRDICA
Diante o alarmismo do documentário "Zero Days", o drama "The Commune" sugere a utopia –ainda que destaque todos os dilemas e incompatibilidades resultantes de quando o casal Erik (Ulrich Thomsen) e Anna (Trine Dyrholm) resolve abrir a própria casa para uma vida comunal com outras pessoas.
"As pessoas não dividem mais as coisas. Nunca houve tanta gente morando sozinha", disse o diretor Thomas Vinterberg, que considera o filme uma declaração de amor à sua infância, nos anos 1970, quando morou com os pais numa casa habitada por várias famílias diferentes.
Apesar do idealismo, as coisas começam a ruir aos poucos: o casamento dos protagonistas entra em crise, conflitos entre os outros membros afloram. "É uma obra sobre a impermanência das coisas: as pessoas se divorciam, se desapaixonam, mas o grupo sobrevive porque continua junto."
Tônica desta edição, a questão dos refugiados também veio a tona na coletiva do filme. "Tenho vergonha de ser dinamarquês", disse Vinterberg. Ele se referia a recente medida proposta pelo governo de seu país de sequestrar joias e bens de valor de imigrantes sírios.
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