Festival de Berlim espelha urgência de retratar a realidade europeia
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'Fuocoammare', vencedor do Urso de Ouro |
Menos de 24 horas antes de o Festival de Cinema de Berlim anunciar o Urso de Ouro, premiação máxima da mostra concedida na noite de sábado (20), um grupo de alemães recebeu um ônibus de refugiados numa cidade da Saxônia, a 200 km dali, aos gritos de "voltem para casa".
A vitória do documentário franco-italiano "Fuocoammare", de Gianfranco Rosi, que aborda a imigração a partir da ilha de Lampedusa, só confirma a emergência do tema que está nas ruas de toda grande cidade do continente: venceu o que captou o "zeitgeist", para usar a expressão alemã para o espírito do tempo.
Vitória justa, mas nada surpreendente no festival de cinema que é o mais politizado entre os três grandes –a Berlim, somam-seos outros são Cannes e Veneza.
Neste último, por sinal, Rosi já havia levado o Leão de Ouro por "Sacro GRA" (2013). Naquele contexto, porém, levantou certa suspeita de marmelada: só num festival italiano um documentário tão local, sobre uma região marginalizada de Roma, ganharia o prêmio máximo.
Mas "Fuocoammare" é diferente. Além de transcender fronteiras geográficas ao abordar de forma humanista um tema tão contundente, tem rigor cinematográfico, o que não é regra quando se trata de documentários.
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'Canção de Ninar ao Mistério Doloroso', do filipino Lav Diaz |
O filme é repleto de quadros bem construídos, plásticos, se preocupa com a luz, com o lirismo das imagens, especialmente nos trechos protagonizados por Samuele, o garoto italiano que é a epítome dos europeus.
O oposto, por exemplo, do americano "Zero Days", outro documentário em competição: esquemático e nada ousado (cheio de repetitivos "talking heads", depoimentos), saiu sem nenhuma mençõesão, apesar do "hype" do oscarizado diretor Alex Gibney.
Nas demais categorias, levaram troféu principalmente filmes que tratam de identidade (nacional ou religiosa), questão cara numa Europa que virou ainda mais uma colcha de retalhos.
Foi o caso do filipino "Canção de Ninar ao Mistério DolorosoA Lullaby to the Sorrowful Mystery" (estatueta para obras que abrem novas perspectivas), do polonês "Estados Unidos do AmorUnited States of Love" (roteiro), do franco-bósnio "Morte em SarajevoDeath in Sarajevo" (prêmio especial do júri) e do tunisiano "Inhabek Hedi" (ator e diretor estreante).
O fato de o prêmio principal ter ido a um documentário em meio a 167 ficções mostra que no velho continente a vida real ganhou contornos tão dramáticos quanto os de qualquer obra da imaginação.
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BERLINETAS
Vigiada...
Foi a Berlinale do alerta máximo. Primeira edição a ocorrer após os atentados terroristas em Paris, em novembro, submeteu a ser revistados todos os que tentaram entrar nas sessões com malas e mochilas
...mas nem tanto
A revista, contudo, não impediu a entrada com câmeras fotográficas. Antes de as luzes apagarem, a atriz Meryl Streep, presidente do júri, era o alvo preferido dos flashes nas sessões a que comparecia
Esnobados...
Apesar de estarem presentes em três dos 18 filmes em competição, os americanos saíram sem nenhum prêmio. O único latino-americano, a coprodução com o México "Soy Nero", também foi ignorado
...mas paparicados
Isso não impediu que os títulos com elenco hollywoodiano tivessem as sessões e entrevistas coletivas mais cheias: passaram por ali George Clooney, Colin Firth, Emma Thompson, Channing Tatum...
Livraria da Folha
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