Cultura de depreciação da mulher é desnudada na montagem 'Carne'
É bem ilustrativo o jogo de perguntas e respostas que Fernanda Azevedo e Mônica Rodrigues fazem no espetáculo "Carne "" Histórias em Pedaços", espécie de resumo feminista que chega na sexta (26) ao Sesc Belenzinho.
"Cachorro?", Fernanda pergunta. "Melhor amigo do homem", Mônica completa. "Cadela?", uma pergunta. "Puta", a outra, ironicamente, responde. A brincadeira não para aí.
Seguem-se as comparações entre "vadio" (aquele que não faz nada) e "vadia", entre "atirado" (impetuoso) e "atirada". Para equivalentes aos adjetivos convertidos ao gênero feminino a resposta é sempre a mesma: "puta".
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
As atrizes Monica Rodrigues (à esq.) e Fernanda Azevedo em cena de 'Carne' |
A Kiwi não é uma companhia que costuma deixar o espectador em dúvida sobre suas posições políticas. Seus atores vão ao palco para passar um recado, e, no caso de "Carne", torna-se clara a manifestação em defesa "da igualdade de direitos entre homens e mulheres".
A cena citada se soma à farta exposição documental, na qual são exibidos exemplos sobre a cultura de depreciação da mulher. A peça se vale de imagens publicitárias consideradas machistas por seus criadores –o roteiro é assinado por Fernanda Azevedo e Fernando Kinas, enquanto a direção é de Kinas.
Estatísticas referentes à inserção da mulher na economia ou sobre registros de violência se combinam. As intérpretes cantam músicas e citam passagens bíblicas; discorrem sobre o simbolismo do Gênesis, mais exatamente sobre Eva ter surgido da costela de Adão, em papel secundário.
A linguagem da peça segue modelo do teatro político que a Kiwi desenvolve desde 1996 e que tem influências do escritor e diretor alemão Peter Weiss (1916-1982). Combina o perfil documental às propostas poéticas que admitem leituras críticas diversas. Frequentemente, o grupo articula debates a seus trabalhos.
Também faz parte das criações da Kiwi uma estratégia de portabilidade. "Carne" é um espetáculo com objetos e projeções, criado para poder ser apresentado em diversos tipos de espaços. Já foi exibido em salões paroquiais, escolas e em um centro de detenção da Fundação Casa para mulheres.
A peça faz parte do projeto "Arte "" Substantivo Feminino", que mescla debates, e criações sobre mulheres, até abril no Sesc Belenzinho. (GF)
CARNE - HISTÓRIA EM PEDAÇOS
QUANDO sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 18h30; até 6/3
ONDE Sesc Belenzinho; r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700
QUANTO R$ 6 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
Livraria da Folha
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