crítica
Diretor japonês se arrisca e faz filme que transborda poesia
Os filmes de Hirokazu Koreeda tratam abertamente de sentimentos, mas geralmente com um freio que os impede de abraçar o melodrama, como fez Naomi Kawase no recente "Sabor da Vida".
Em "Nossa Irmã Mais Nova", baseado no mangá de Akimi Yoshida, não há freio. Três irmãs, Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kaho), vivem numa casa velha e grande.
Quando o pai delas morre, as meninas vão ao funeral, em outra cidade. Lá conhecem a meia-irmã adolescente Suzu (Suzu Hirose) e a convidam para morar com elas.
A cena do convite é um primor. As três irmãs mais velhas dentro do trem que as levará de volta para casa, Suzu do lado de fora. Sachi faz o convite. As outras demonstram concordância.
Suzu aceita, pouco antes de a porta fechar e o trem sair da estação. Elas se despedem enquanto a distância física vai aumentando, mas sabendo que será uma breve separação. A música cresce, deixando conosco a felicidade da caçula.
Divulgação | ||
Cena de 'Nossa Irmã Mais Nova' |
A única ameaça à harmonia entre as quatro irmãs é o fato, nem sempre esquecido, de que Suzu é filha de um outro casamento do pai delas.
Isso fica claro em diversas cenas, como quando a mãe de Sachi, Yoshino e Chika vai visitá-las e se depara com Suzu. É um encontro tenso, que ambas tratam logo de contornar com sorrisos e cortesias.
O filme transborda poesia, como na belíssima cena em que Suzu anda de bicicleta com um amigo (e pretendente), dentro de um túnel formado por belas cerejeiras floridas. A câmera de Koreeda ressalta sua graciosidade, o contato de seu rosto com a natureza, sob uma música sentimental.
Se no tom geral o filme lembra as histórias familiares de Yoji Yamada (de "Uma Família em Tóquio", refilmagem de um clássico de Ozu), essa delicada cena lembra a obra-prima perdida de Eizo Sugawa, "Rio dos Vagalumes" (1987), uma história tocante de amor adolescente.
São por momentos como esse, no perigoso limiar do piegas, que "Nossa Irmã Mais Nova" se confirma como o ponto alto da carreira de Koreeda. É preciso muita sensibilidade para se arriscar no incompreendido terreno do melodrama e não se perder.
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