Tuca Andrada traduz para o palco histórias de retirantes anônimos
O medo foi um sentimento "presente" nos meses que seguiram a viagem do ator Tuca Andrada de Pernambuco para o Rio, em 1986.
Ele tinha 21 anos, alguns espetáculos amadores no currículo e a vontade de consolidar uma carreira artística. "Sempre que você deixa sua terra natal, precisa estar convicto do que está fazendo, pois é constante a sensação de que algo pode acontecer."
O depoimento não está em "Nordestinos", que Tuca encenou a partir de argumento do ator Alexandre Lino e com dramaturgia de Walter Daguerre. Mas poderia estar.
Janderson Pires/Divulgação | ||
Cena da peça "Nordestinos" |
A peça foi criada a partir de histórias contadas por nordestinos de diferentes classes sociais e faixas etárias, mas que realizaram o mesmo trajeto, para o Sudeste, fixando-se no Rio e São Paulo.
Na primeira etapa da criação de "Nordestino", há pouco mais de um ano, toda a equipe se dedicou a recolher depoimentos, por meio de e-mails, cartas e até pessoalmente. "Andávamos pelas feiras, pedíamos entrevista para porteiros, pedreiros, para amigos e familiares", conta o ator e diretor.
O próprio elenco "foi obrigado" a depor, conta Andrada. "Recolhidas as histórias, começamos a dramatizá-las".
Entre as histórias, relembra Andrada, está a de um casal que se deslocou do sertão pernambucano para São Paulo em um automóvel Fiat. Foram três semanas de estrada.
A mulher era uma mãe solteira, que engravidara aos 12 anos e viu o filho embarcar para o Rio de Janeiro 20 anos depois. "Ela só foi reencontrá-lo passado muito tempo", conta Andrada. "Quando chegou a São Paulo, não conseguia nem andar pela cidade, pela dificuldade de enfrentar o desconhecido".
Os nomes dos personagens não são mencionados na peça. "Demos inclusive a opção do anonimato. Quem não queria não precisava dar seu nome", diz o ator.
O resultado é uma profusão de personagens representados por quatro atores. A dinâmica passa por apropriações de gêneros populares no Nordeste, como o teatro de mamulengo.
Os depoimentos recolhidos geraram ainda um livro, "Nordestinos "" Histórias de Vidas "" Histórias Reais" (Giostri Editora, R$ 30).
E está em andamento um documentário –que deve estrear em outubro– com relatos de espectadores recolhidos em sessões da peça.
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