crítica
Com formato simplista, 'Cidadão Rebelde' desafoga nosso niilismo
Ouvir Haskell Wexler discorrer sobre seus ideais é como voltar à adolescência. Morto em dezembro do ano passado, aos 93 anos, o documentarista desafoga um pouco do nosso cotidiano mergulhado em desesperança e niilismo ao exaltar a importância de seu ofício.
Embora o ceticismo sempre encontre uma maneira de emergir, "Cidadão Rebelde" faz o espectador retornar ao período da vida em que convicções, como a "busca pela verdade", parecem inabaláveis –mesmo que a realidade escancare o contrário.
Se por um lado Wexler foi um diretor de fotografia que trabalhou com gigantes da Hollywood explosiva das décadas de 1960 e 1970, foi também autor de documentários de extrema vocação social.
Para financiá-los, usava o dinheiro que ganhava em trabalhos ao lado de cineastas como Hal Ashby, Mike Nichols e Milos Forman para documentar, por exemplo, negros e brancos durante uma viagem de ônibus até a capital dos Estados Unidos, onde participariam da marcha pelos direitos civis liderada por Martin Luther King.
Divulgação | ||
Haskell Wexler (à dir.) durante as filmagens de 'Quem Tem Medo de Virginia Woolf?' |
Já neste documentário dirigido pela parceira Pamela Yates, Wexler é personagem solitário. Em frente à câmera, divaga sobre a carreira durante pouco mais de uma hora.
De fala enérgica e passagens bem humoradas, ele relembra a importância dos Oscar que venceu como diretor de fotografia: permitir que ele possa falar qualquer besteira e ainda assim ser ouvido, pois "ter visibilidade na sociedade é um commodity".
As vitórias na Academia, em 1967, por "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", e em 1977, por "Esta Terra É Minha", porém, são tocadas de relance. "Cidadão Rebelde" celebra o cinema político que documentou o grupo radical norte-americano Weather Underground, as torturas sofridas por brasileiros durante a ditadura militar e a luta contra jornadas desumanas na indústria de Hollywood.
Embora Milos Forman alegue que "diferenças artísticas" o levaram a demitir Wexler das filmagens de "Um Estranho no Ninho", especula-se que um suposto inquérito do FBI tenha forçado a saída do cinematógrafo da produção deste clássico do cinema.
As acusações de antipatriotismo incomodam Wexler e provocam o momento mais emocionante do filme, que por vezes fatiga pelo formato repetitivo e simplista. Sua sorte é contar com um personagem tão inspirador.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade