Em estreia como produtora, Ellen Page defende direitos civis LGBT
Ellen Page, 29, estava destinada a uma vida de privilégios hollywoodianos sem dilemas. Indicada ao Oscar aos 20 anos por "Juno" (2007), já tinha um papel frequente em uma grande franquia ("X-Men") e era cortejada por grandes diretores, como Christopher Nolan ("A Origem").
Mas, em fevereiro de 2014, dias antes de completar 27 anos, Page fez o que muitos atores da indústria do entretenimento ainda temem: se assumiu lésbica durante um discurso por uma organização de direitos civis, em Las Vegas. ]
"Foi o dia mais nervoso da minha vida", diz a atriz à Folha. Desde então, Page tem feito participações em congressos, movimentos ativistas e até confrontou o deputado federal Jair Bolsonaro na série documental "Gaycation".
Nesta quinta-feira (21), estreia no Brasil "Amor Por Direito", seu primeiro longa após a revelação e o início de uma carreira como produtora. É a versão dramatizada de um curta documental homônimo, premiado no Oscar 2008.
Laurel Hester (Julianne Moore), uma policial diagnosticada com câncer, quer deixar uma pensão para a companheira, Stacie (Page). Na vida real, a história teve ampla divulgação e transformou-se num exemplo de batalha pelos direitos gays.
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Folha - Qual foi a razão de ter produzido este filme?
Ellen Page - Acredito que o drama tem um espectro maior de alcance e era importante contar como a intolerância tem poder destrutivo.
Como você decidiu revelar ao mundo sua sexualidade?
Estava pensando em fazer isso havia muito tempo. Estava cansada de me sentir mal comigo mesma. Esse filme teve uma importância porque não acho que uma atriz no armário poderia fazer esse papel. Ia ser hipocrisia. Não vale a pena ficar no armário, mas há pessoas que não podem fazer isso porque podem ser presas ou mortas.
Passado um tempo, qual seu sentimento em relação à decisão?
Gostaria de ter feito antes. Não fiz porque estava em uma jornada interna. Fiquei conhecida com 20 anos e estava me relacionando com uma mulher que amava muito, mas ainda estava navegando e entendendo minha identidade.
Hollywood não parece ser tão liberal.
Não sei. É verdade que existe um sentimento de que você não pode se assumir e ser quem você é. Isso é triste, principalmente porque não é verdade. Se alguém falasse para mim que não poderia fazer filmes porque assumi que sou gay, eu ficaria chateada, mas não desistiria. Não poder interagir com alguém que você ama em público, não poder andar de mãos dadas, é uma maneira tóxica de se viver.
Como foi o discurso em Las Vegas?
Foi uma mistura de empolgação e emoção extrema. Estava num ponto da vida que achava que nunca aconteceria, mas empolgada para falar.
Qual foi a melhor reação que você presenciou desde que fez o discurso?
Foi um homem de 40 anos com quem eu trabalhava na época. Ele me chamou no canto e começou a chorar, me perguntando o que fazer, porque queria contar para a família que ele era gay. É extraordinário ter esse impacto na vida de alguém.
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