Encontro retratado em peça tornou Freud fetiche no surrealismo de Dalí
Quando ficou cara a cara com Freud, em 1938, um encontro com que sonhou toda a vida e que é retratado na peça "Histeria", de Jô Soares, Salvador Dalí pouco disse e quase nada ouviu. O pai da psicanálise, já à beira da morte, não parecia muito interessado no surrealista excêntrico.
Dalí então fez um desenho em que retratava a cabeça do cientista, maior influência por trás de seus delírios visuais, como um caramujo, um bicho espiralado que extravasava as dimensões de seu crânio.
Desde que leu "A Interpretação dos Sonhos", clássico de Freud, o artista espanhol tentou plasmar em suas telas as visões ao mesmo tempo sedutoras e tétricas de seus mergulhos no inconsciente.
Seus relógios molengas e seres com gavetas saindo do corpo, mutilados e apoiados em muletas ou mesmo mortos de tesão são alusões aos dramas e fantasias mais profundos.
Em muitas de suas pinturas, o rosto de Freud surge transmutado em rochedo ou parte da paisagem agreste da Catalunha. É uma âncora visual e conceitual de um território de superfícies alucinantes.
No caso, Freud foi além da inspiração para virar fetiche no surrealismo de Dalí. Deu rosto e serviu de sentinela à perversão escancarada nas pinturas do artista. Nas gavetas que saltam de seus corpos destroncados parecem estar os arquivos do sono da razão.
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