Com inspiração em 'Game of Thrones', italiano faz conto de fadas gótico
Rainhas que comem corações de dragões marinhos. Princesas prometidas a ogros. Reis lascivos. Tudo isso parece "Game of Thrones', um dos maiores fenômenos televisivos da atualidade. Os mesmos ingredientes banham "O Conto dos Contos", novo filme do italiano Matteo Garrone, de "Gomorra" (2008). E não é uma coincidência.
"A primeira temporada de 'Game of Thrones' foi minha maior referência", conta o cineasta à Folha. "Mas logo depois vêm 'Gaviões e Passarinhos', de Pasolini e os filmes de Mario Bava."
O filme é inspirado na obra "Pentamerão", do poeta Giambattista Basile, base de inspiração para contos de fadas como "Cinderela" e "Rapunzel". Mas seu clima é bem menos infantil que as recentes adaptações do gênero, como "Branca de Neve e o Caçador".
"É um livro maravilhoso e pouco conhecido. Descobri há alguns anos e notei como ele produziria grandes imagens, personagens únicos e cenários ambiciosos para um cineasta. E combina com minha trajetória", diz.
A declaração pode parecer contraditória, vindo do homem que mergulhou no livro de Roberto Saviano sobre a máfia napolitana. Mas ele garante que até mesmo aquele universo tão hiper-realista tinha ligações com a fantasia. "'Gomorra' é uma fantasia dark. Eu não estava interessado em denunciar, como fez Saviano, mas na arte e no conflito humano. Fiz uma ficção, tanto que nunca precisei me esconder com medo."
Divulgação | ||
Stacy Martin é Dora em cena de 'O Conto dos Contos', de Matteo Garrone |
Em seguida, Garrone flertou com a metafísica e o surrealismo em "Reality - A Grande Ilusão" (2012), sobre um homem obcecado por entrar no programa "Big Brother". "Infelizmente, foi um fracasso", lamenta o italiano. "As pessoas achavam que era sobre o 'Big Brother'. Claro que quem vê esse programa não vai assistir a meu filme, e vice-versa. Que desastre."
"Gomorra" e "Reality" levaram o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes, mas "O Conto dos Contos" ficou a ver navios no ano passado, mesmo com um elenco de estrelas como Salma Hayek e Vincent Cassel.
O longa é formado por três linhas narrativas. A primeira é uma fábula gótica sobre uma rainha (Hayek) que pede para o marido arrancar o tal coração do dragão para melhorar sua fertilidade. A atriz comeu um coração falso que nem sabia o que continha. "Havia massa, doces e todos os tipos de coisas nojentas que você pensar", brinca ela.
A segunda trama é protagonizada por um rei perturbado por uma pulga a ponto de entregar a filha para um ogro, e a terceira traz o rei mulherengo de Cassel apaixonando-se pela voz de uma mulher.
Garrone se preocupa com a falta de aceitação dos seus últimos filmes, mas sabia que essa obra enfrentaria resistências. "Fiz para divertir o público."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade