crítica
Veia moralista de diretor prejudica drama sobre o Holocausto
Outra estreia sobre a barbárie nazista mostra que o Holocausto é uma indústria cujos produtos e lucros parecem não ter fim. "Memórias Secretas" tem pelo menos o pudor de não nos forçar a mais uma visita a Auschwitz.
O novo filme de Atom Egoyan começa com uma premissa excitante. Um senhor de quase 90 anos com sintomas de demência senil é levado por um colega de asilo a fugir, para caçar e eliminar um antigo algoz de Auschwitz que vive na América do Norte.
O primeiro passo é achar entre imigrantes que adotaram o nome Rudy Kurlander qual o verdadeiro criminoso. Zev Guttman (Christopher Plummer) encontra-os um a um e protagoniza situações que oscilam da perfeita tensão ao canhestro sentimentalismo. Egoyan se apoia na assombrosa interpretação de Plummer para não naufragar.
Outro ponto de sustentação do filme é a contradição entre a memória, que move o acerto de contas com o passado, e o esquecimento, representado nos apagões que perturbam o personagem e angustiam a plateia.
Uma astúcia que aumenta a tensão é o controle exercido por Max Rosenbaum, personagem valorizado pela face mefistofélica de Martin Landau.
Divulgação | ||
Christopher Plummer (à esq.) e Martin Landau em cena do filme 'Memórias Secretas' |
Max escreve o detalhado passo a passo que Zev utiliza nos instantes em que perde a lucidez. Ele funciona como um duplo do roteirista e do diretor, alguém que desenha um plano e move os fios, enquanto Zev é seu personagem, é quem entra em cena, executa e sofre a ação.
Esse jogo evoca a astúcia narrativa com que Egoyan conquistou boa parte de prestígio autoral. Mas "Memórias Secretas" se enfraquece quando o diretor dá vazão à veia moralista de seu trabalho –que pode produzir bons resultados, como "O Doce Amanhã" (1997), ou desastres completos, como "O Preço da Traição (2009)
No filme, Egoyan reafirma seu talento para dramatizar com gelidez, colocar o espectador diante de ambiguidades morais e testar nossas certezas. No entanto, o recurso a truques fáceis, como a pavorosa reviravolta de roteiro no final, deixa a impressão de que seu cinema é puro fogo de artifício.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade