crítica
Viagem de descendentes à África redimensiona diáspora
Divulgação | ||
Cena do documentário 'Brasil: DNA África' |
Versão cinematográfica da série de TV e do projeto de mesmo nome, o documentário "Brasil: DNA África" mostra um passo fundamental na recuperação das origens dos afrodescendentes, grupo populacional brasileiro em geral não sabe de onde vem, pois perdeu todos os laços com a África devido à escravidão.
No projeto, iniciado em 2013, 150 pessoas fizeram teste de DNA para indicar se possuíam ancestralidade em relação às mais de 220 etnias listadas no banco de dados do laboratório African Ancestry, em Washington. Os exames mostraram que vieram para o Brasil muito mais etnias do que se sabia até então.
Entre os participantes há integrantes do movimento negro, artistas, intelectuais e jornalistas. Entre 150, foram escolhidos cinco que viajaram à África para conhecer os povos de seus antepassados: o arquiteto baiano Zulu Araújo (povo tikar, Camarões), o músico mineiro Sérgio Pererê (povo mbundu, Angola), o jornalista maranhense Raimundo Garrone (povo balanta, Guiné-Bissau), a consultora de moda carioca Juliana Luna (povo ioruba, Nigéria) e o mestre de capoeira pernambucano Levi Lima (povo makua, de Moçambique).
Além da emoção do encontro com as origens, essa reconexão com o passado também é mostrada como autoconhecimento, rico de consequências. A primeira é colocar a diáspora africana em outra dimensão: mais que descendentes de escravos, eles são descendentes de africanos. Juliana Luna designa isso claramente ao dizer que "até hoje estamos presos num sistema opressor, que não permite que a gente se enxergue além de um simples escravo".
Outro momento marcante é conversa de Zulu Araújo com o rei tikar, quando pergunta "como os tikar foram parar no Brasil". Constrangido –sinal de que o assunto ainda é tabu–,o rei responde que "se aquelas as pessoas não fossem vendidas, teriam sido mortas, pois haviam cometido crimes graves" e na época o rei tinha poder de vida e morte sobre elas. O rei admite que isso foi feito "por ignorância", pede perdão e reconciliação. Um gesto carregado de significado.
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