CRÍTICA
Movimentos inspirados marcam abertura do Festival de Inverno
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) abre hoje (2) o 47º Festival de Inverno de Campos do Jordão com um programa que traz a estreia de "Gravitações", obra encomendada ao peruano (naturalizado brasileiro) Jorge Villavicêncio Grossmann, e o "Concerto para violino e violoncelo" de Brahms (1833-97).
Com solos da violinista Karen Gomyo e do violoncelista Christian Poltéra, o concerto de Brahms poderá ser visto também neste domingo (3) na Sala São Paulo, seguido pela "Sinfonia n.5" de Shostakovich (1906-75). As apresentações são regidas pela titular Marin Alsop.
Brahms escreveu o concerto duplo no início de sua fase final, período em que a capacidade de amalgamar oposições através do artesanato impecável atinge nível supremo.
Isabela Guasco/Divulgação | ||
Apresentação da Osesp nesta quinta (30), na Sala São Paulo |
Sua crença total no jogo cerrado entre harmonia e contraponto abarca música de câmara e sinfônica, violino e violoncelo, virtuosismo e estrutura, forma e vida, e até mesmo uma dramaturgia narrativa –a princípio diversa de seu estilo severo–, que se revela na continuidade das entradas dos solistas.
Vê-se que Gomyo e Poltéra trabalharam a interação camerística, o que, na quinta-feira (30), mostraram já na primeira sequência de escalas em semicolcheias oitavadas, perfeitas em articulação, timbre e volume.
A orquestra também teve o seu brilho, mas –para além do incômodo na afinação entre trompas e madeiras logo na entrada– o segundo movimento poderia ser mais nuançado. Poltéra também soou um tanto acima de Gomyo no exigente terceiro movimento.
A "Quinta" de Shostakovich parte de uma célula mínima, um salto ascendente de sexta de cellos e contrabaixos que, antes mesmo de ser invertido um degrau abaixo, já vai sendo imitado pelos violinos. Foi o ponto alto da noite.
Não podemos nos esquecer que essa foi a obra apresentada na estreia de Alsop como titular da Osesp em 2012. Tal como naquela ocasião, ela regeu decor (o público paulista viu também uma performance memorável com Mariss Jansons e a Orquestra da Rádio da Baviera em 2014).
Foram muitas as qualidades: violinos inspirados e perfeitos já no primeiro movimento, o inesquecível efeito estereofônico de piano e trompas, de um lado, com trompetes (e contrabaixos em pizzicato) de outro; e solos maravilhosos da flautista Claudia Nascimento.
A posição da orquestra também está diferente: violoncelos centralizados e contrabaixos deslocados para a direita. Metais seguem na lateral, em oposição diametral a trompas. Será interessante observar se isso será mantido nos próximos concertos.
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