Com 'Bukowski manauara', mesa aborda 'romance periférico'
Tomaz Silva/Agência Brasil | ||
Os escritores Jéssica Oliveira, Marçal Aquino, Márcio du Coqueiral e Diego Moraes na Flipzona |
Na programação alternativa da Flip, há vários tipos de escritores —até um ex-padeiro sergipano que distribuía trechos de contos na embalagem do pão, Márcio du Coqueiral, 33.
O nativo de Estância (SE) se reuniu nesta sexta (1º) com Diego Moraes e Jéssica Oliveira, todos escritores estreantes de regiões pobres do Brasil, para debater o "romance periférico".
O obstáculo na publicação do primeiro livro de Márcio foi um dos assuntos da mesa. Em 2011, seu manuscrito foi engolido por uma enchente, que invadiu sua casa enquanto ele dormia.
"Acordei com água na altura do joelho. Perdi geladeira, fogão, computador e manuscritos de dois livros prontos", contou. O material que sobreviveu deve ser publicado em breve, em um livro chamado "O Que Sobrou da Enchente".
O sergipano escreve em trechos curtos, aforismos, como: "Se você acha que está sozinho, perdido na escuridão, acenda uma vela." e "Décimo andar. Ela disse que ele não tocaria nela de novo e saltou pela janela."
Quando era pequeno, ele não tinha livros em casa, então se contentava em catar papel de bala e jornais usados na rua para se exercitar. Sua mãe relatou o problema a uma amiga, que trouxe gibis da Marvel e da Turma da Mônica para Márcio. O primeiro livro "de verdade" que leu foi "Os Miseráveis", de Victor Hugo.
"Eu retrato a violência. Acho que hoje em dia as pessoas estão perdendo a sensibilidade. Na cidade onde eu moro [Barra dos Coqueiros], tem lugares com quadros para contabilizar os mortos no fim de semana", diz Coqueiral sobre seus escritos.
Jéssica Oliveira, 24, prefere falar dos aspectos cotidianos da periferia de Nova Iguaçu (RJ), como pegar o trem, fazer o café de manhã e comprar amendoim torrado na volta para casa.
Sua personagem de referência é sua vó, de 85 anos, que categoriza como alguém que "ama Igreja, cachaça e palavrão".
BUKOWSKI MANAUARA
Já Diego Moraes, 33, é uma espécie de Bukowski manaura. "A literatura é onde eu gozo, onde eu sinto tesão, onde posso gritar e ser ouvido."
Os títulos de seus livros publicados lembram os do velho Buk: "Meu Coração É um Bar Vazio Tocando Belchior" (2016), "A Fotografia do Meu Antigo Amor Dançando Tango" (2012), "A Solidão É um Deus Bêbado Dando Ré num Trator" (2013), entre outros.
"Cresci num ambiente muito conturbado, muito aflitivo. Era difícil rolar livros na minha casa por diversos motivos —falta de grana, luz." Ele começou a ler na biblioteca de sua professora de escola, onde se apaixonou por "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Agora, o sonho de Moraes é enriquecer com a literatura e ir para São Paulo. "Manaus que se foda", em suas palavras.
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