Tudo virou MPB, que não quer dizer nada, afirma Ruy Castro na Casa Folha
Keiny Andrade/Folhapress | ||
Ruy Castro (à dir.) fala sobre samba-canção na Casa Folha, com mediação de Mauricio Meireles |
São apenas três letras, mas com uma história carregada de controvérsia e um significado vazio. Assim é a MPB, segundo Ruy Castro, autor convidado da Casa Folha na manhã de sábado (2), durante a 14ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
"O rótulo 'samba-canção' foi usado até 1965 –antes, o brasileiro sabia definir os gêneros musicais; depois, não: tudo virou MPB, que não quer dizer nada."
Mediada pelo jornalista Maurício Meireles, colunista da Folha, a mesa "Noites de samba-canção, tardes de bossa nova" foi uma aula sobre história da música –ou melhor, foi uma revisão histórica.
"Nos últimos 25 anos, há a ideia de que tudo o que aconteceu na música brasileira foi para resultar na bossa nova, e eu não posso concordar com isso", diz o autor de "Chega de Saudade" e "A Noite do Meu Bem". Ele explica que "a bossa nova foi uma consequência natural da qualidade musical das décadas anteriores".
Por esta visão, o samba-canção "não seria uma preparação para a bossa nova, como afirmam alguns estudiosos". Aliás, "o samba-canção veio antes da bossa nova, foi contemporâneo a ela e sobreviveu a ela –mas com outros nomes".
Didático, o escritor explicou que, em qualquer música popular do mundo, há duas vertentes: a romântica e a sincopada. "A sincopada é mais 'puladinha', como o samba, o baião, o choro. Essa linha gerou a bossa nova. Já a romântica, gerou o samba-canção."
BELEZA DO FEIO
E o que é música brasileira hoje? "De umas décadas para cá", diz Castro, "se instaurou a beleza do feio na música". A "feiura", contudo, se deve à falta de qualidade musical em si –ou "de beleza", como diz–, e não tem a ver com influências de outros lugares, ou a "americanização" da música brasileira.
Apesar da grande riqueza musical do Brasil –"que o brasileiro ignora", ressalta Castro–, a miscigenação é bem-vinda aos ouvidos do escritor. "Desde a invenção e a disseminação do disco, não existe mais música sem influências", explica. "E isso não é um pecado. Pixinguinha, por exemplo, trocou a flauta pelo saxofone, que tinha sido adotado pelo jazz americano."
O autor aproveitou o grande público da casa para fazer um comentário político. Crítico, Castro afirmou que o papel do Ministério da Cultura é fomentar ações artísticas que não são rentáveis, mas que devem sobreviver, "como a música clássica". "Um ministério que serve para dar show de rock na praia não deveria existir", disse.
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