Festival italiano Cinema Ritrovato exibe filmes clássicos restaurados
Bolonha está fervendo neste ano: logo após o cinema completar 120 anos em dezembro do ano passado, o tradicional festival Cinema Ritrovato, que acontece na cidade italiana, realizou sua 30ª edição até o dia 2 de julho –com salas lotadas.
Na Piazza Maggiore, uma exposição mostra invenções dos irmãos Louis e Auguste Lumière, considerados "pais do cinema", que vão dos filmes à fotografia colorida, sem esquecer o que é creditado como o primeiro sistema 3D da história (de 1935).
Neste ano, ao lado do curador do festival, o italiano Gian Luca Farinelli, está Thierry Fremont: o czar de Cannes e, não por acaso, do legado dos Lumière em Lyon.
Divulgação - 16.out.1998 | ||
Cena de "A Nova Saga do Clã Taira", do japonês Kenji Mizoguchi |
Tudo isso aponta para o fato de que a preservação deixou de ser apenas uma maneira de manter obras de arte vivas para se tornar uma indústria. Com TVs, Netflix e edições especiais de DVDs, o restauro do audiovisual deixa de interessar apenas a círculos de fanáticos, estudiosos e críticos para ser um negócio indispensável à sobrevivência de cinematografias como a norte-americana e a europeia.
Ambas são as que mais demonstram empenho em Bolonha. Mas não são as únicas. Taiwan traz neste ano os filmes de estreia de Edward Yang (o magnífico "Taipei Story") e Hou Hsiao-Hsien ("Os Rapazes de Fengkuei", também ótimo), ambos dos anos 1980.
O Japão traz seus primeiros filmes coloridos, com destaque para "A Nova Saga do Clã Taira" (1955), de Kenji Mizoguchi, e o belo "O Corvo Amarelo" (1957), de Heinosuke Gosho. A Itália vem pessoalmente, com Marco Bellocchio, Bernardo Bertolucci e o fotógrafo Vittorio Storaro.
Entre retrospectivas maiores, o destaque é a França, com os filmes de Jacques Becker, e os Estados Unidos, com a obra de Carl Laemmle Jr, mais conhecido apenas como Junior, chefe da Universal entre 1928 e 1936.
Na produção de Junior, há coisas espantosas. Nenhuma, talvez, equivalente aos melodramas de John M. Stahl feitos antes do Código Hays, que impôs autocensura aos estúdios. A produção mostra como Hollywood podia fazer filmes adultos e como o Código a reduziu a um inútil infantilismo moralista por décadas.
Na exibição de "Backstreet" (1932) no Ritrovato, dirigido por Sthal e que no Brasil recebeu o nome "Marido Alheio", podia-se ver garotas de 20 ou 25 anos com os olhos inchados pelo choro. Uma demonstração de que, mais de 80 anos depois, com todas as mudanças de hábito ou tecnologia envolvidos, um filme pode comover da mesma maneira que o fez em sua época –basta que seja bom.
Já que temos também uma pequena mostra de filmes cubanos, se temos uma retrospectiva da Argentina com filmes surpreendentes, pode-se perguntar onde fica o Brasil nisso tudo.
Não fica. Está ausente. Na rabeira, para variar.
Pouco antes do Ritrovato começar em Bolonha, pesquisadores preparavam-se para entregar ao secretário do audiovisual do Ministério da Cultura, durante a 11ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, um plano de restauro de filmes brasileiros. Mas, naquela altura, o secretário tinha mudado e o MinC sido recém-extinto para depois ser recriado.
Em outras palavras, e para não variar: o mundo voa, nós ficamos. Nem mesmo em preservação das imagens pensamos, que dirá de explorá-las como fonte de renda na era em que o digital cada vez mais sugere que esse seja um caminho importante.
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