crítica
Reencenações realçam drama de 'Menino 23' sem pieguice
Ao contar a história de 50 meninos levados de um orfanato no Rio para uma fazenda no interior de São Paulo, onde foram submetidos a trabalhos forçados e violência física, "Menino 23" toca também em um tema importante: a popularidade do nazismo no Brasil dos anos 1930.
Muita gente vai se surpreender ao saber que o Brasil tinha o maior partido nazista fora da Alemanha e como eram populares as ideias eugenistas por aqui.
Felizmente, o diretor Belisario Franca e o historiador Sidney Aguilar conseguiram depoimentos reveladores sobre a vida na fazenda, onde crianças uniformizadas eram obrigadas a cantar o hino da Ação Integralista Brasileira.
A história da poderosa família Rocha Miranda, formada, em parte, por nazistas e integralistas, é surpreendente, assim como as imagens de bois marcados com a suástica.
Divulgação | ||
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O agricultor José Ricardo Rosa, que descobriu tijolos marcados com suásticas em fazenda de SP |
Para compensar a ausência de material iconográfico, o filme reencena algumas sequências, como os castigos corporais infligidos aos meninos e as tentativas de fuga.
Essas reencenações, que em outros filmes escorregam para a pieguice, são tão bem feitas que só realçam o poder dramático da história. Fotografia, música e direção de atores são de primeira.
Se "Menino 23" tem um problema, é o de não se aprofundar em histórias potencialmente interessantes. Um dos personagens, depois de fugir da fazenda e passar anos na rua, se alista na Marinha durante a Segunda Guerra.
A narração diz que era grande o risco de morrer em combate, mas o assunto morre ali. Outra informação questionável: o filme diz que o período entre o final dos anos 1920 e início dos anos 1930 é "o mais racista de nossa história". Mais racista que a época pré-Lei Áurea?
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