'Sou um medroso, tenho medo de morrer', diz Caco Barcellos em debate
Keiny Andrade/Folhapress | ||
Caco Barcellos na Flip, evento literário que aconteceu de 29 de junho a 3 de julho em Paraty (RJ) |
Denúncias sobre mortes provocadas por policiais de São Paulo. Relatos sobre o tráfico de drogas do Rio de Janeiro. Cobertura de uma revolução na Nicarágua. Com livros e dezenas de reportagens investigativas no currículo, o jornalista Caco Barcellos diz que nunca perdeu o medo de morrer.
"Sou um medroso. Claro que tenho medo. Mas tenho um dever de oficio", disse o repórter na noite desta quinta-feira (7) em evento promovido pela Folha na Livraria Cultura do shopping Bourbon, em São Paulo. Mediado pelo colunista do jornal Mauricio Stycer, o evento aconteceu por causa do lançamento do livro "Profissão Repórter - 10 anos" (ed. Planeta, R$ 49,90).
Na obra, ele relembra momentos do programa que comanda na Globo há uma década, acompanhado de depoimentos dos repórteres da equipe, que falam dos episódios mais marcantes.
Para Barcellos, o jornalismo investigativo inevitavelmente envolve riscos. "[O programa 'Profissão Repórter'] vai até onde nem todos vão. Caso contrário, o que vamos apresentar? Para não correr riscos, a gente precisa estar extremamente bem informado sobre a reportagem. Tem que ter feito muita pesquisa para entender os perigos que envolvem o trabalho. Outra atitude é iluminar sempre a vítima, e não apontar o dedo para o agressor. Porque a vítima pode proteger você", disse no bate-papo.
Entre os episódios relembrados, está a cobertura dos protestos de junho de 2013 em São Paulo, quando a equipe do programa e o próprio jornalista foram hostilizados por manifestantes. "Fomos mal recebidos por uns, protegidos por outros. Mas foi um momento incrível para o jornalismo no Brasil. Você tinha dúvidas, não sabia quem era de esquerda e de direita. Foi muito rico, apesar das botinadas na canela."
Fizeram parte do evento outros três integrantes do programa –Caio Cavechini, Gabriela Lian e Eliane Scardovelli. "Com o 'Profissão Repórter', as pessoas começaram a perceber que uma notícia não é necessariamente a verdade. Mas um relato de um jornalista sobre um fato", diz.
"Nós procuramos deixar claro nas matérias que aquele é o nosso olhar. E queremos que as pessoas em casa fiquem com o questionamento sobre qual seria o olhar delas naquela situação", finalizou Barcellos.
Na semana passada, o jornalista participou da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), quando falou sobre jornalismo e narcotráfico com o repórter Misha Glenny, que já foi correspondente do "Guardian" e da BBC, mediado pelo jornalista Ivan Marsiglia.
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