Crítica
Saga da vaca Jacqueline tem certa vitalidade, embora previsível
Primeiro, é bom saber, "La Vache", a vaca, é o título original de "A Incrível Jornada de Jacqueline". Segundo, também não faz mal saber, estamos diante de uma comédia a um tempo agradável e confortável, previsível, mas dotada de certa vitalidade.
Em suma, um objeto que não oferece nenhum tipo de desafio ao espectador, que não ofende ninguém, mas nem por isso nulo. Eis o ponto interessante.
Divulgação | ||
Filme narra a jornada de componês argelino Fatah (Fatsah Bouyahmed) e sua querida vaca |
"A Incrível Jornada" nos leva a Fatah, ingênuo camponês de uma pequena aldeia argelina, cujo sonho consiste em levar a vaca Jacqueline, sua maior paixão, a uma importante competição agropecuária que acontece em Paris.
Ele obtém o convite e consegue viajar até Marselha. Daí por diante, decide que levará Jacqueline a pé até a capital francesa. A distância é longa e a decisão é que fará o eventual encanto da jornada, ao longo do qual Fatah passará por previsíveis dificuldades e pouco inesperadas alegrias.
Para que as coisas se tornem mais óbvias, seu trajeto será certo dia captado pela televisão e, depois, transformado em xodó da internet... Aquelas coisas de sempre.
CONTRIBUIÇÃO ÁRABE
A questão é: o que faz um filme que tudo credencia a tornar-se altamente dispensável em um objeto aceitável e uma comédia bem simpática? Sim, sempre dentro dessa categoria que o pessoal da nouvelle vague, em outros tempos, chamava "le cinema de papa", o que nós aqui chamamos de "filme família".
Me parece que o essencial vem da contribuição que os cineastas de origem árabe oferecem hoje ao cinema francês. Nem sempre compreenderemos melhor a complexidade das relações árabe-europeias a partir desses filmes (e este em particular procura aplastá-la), mas ele traz uma vitalidade e uma capacidade de observação diferente daquela que os franceses-franceses costumam oferecer.
Aqui, na verdade, Fatah encontrará um grupo de franceses quase sempre simpaticíssimos e acolhedores. Com isso, o filme produz o que se pode chamar de uma "política de boa vizinhança" entre povos marcados por oposições por vezes gritantes e lembranças cheias de rancor ou racismo (lembrar que Argélia libertou-se da França após uma guerra sangrenta, mas a França abriga em seu território muitos trabalhadores daquele país).
SIMPATIA
Convém esquecer esse aspecto, assim como vale a pena passar por cima do roteiro sem surpresas: tudo isso acaba salvo por soluções cênicas ou de montagem bastante felizes, além de um bom ator central, que tornam essa comédia ágil e terminam por enfatizar sua simpatia e o caráter distendido do filme mais do que seus óbvios limites e até de um conformismo que beira o revoltante.
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