Com imigrantes haitianos em cena, grupo Os Satyros discute alteridade
Em seu novo trabalho, o grupo Os Satyros adentra mais profundamente a pesquisa da alteridade. E o faz logo no título da peça: "Haiti Somos Nós". A montagem, que mescla imigrantes haitianos e atores brasileiros em cena, terá três sessões em São Paulo a partir desta sexta (5).
"Queríamos mostrar os pontos em comum entre brasileiros e haitianos. Porque as diferenças nós já conhecemos", diz o diretor Rodolfo García Vázquez, dos Satyros.
O projeto é uma parceria com a Prefeitura de São Paulo, que propôs à companhia um trabalho com imigrantes. Dali, o grupo selecionou 12 haitianos que vivem em São Paulo, nenhum dos quais tinha experiência com o teatro. Os amadores tiveram aulas e ensaios por três meses.
Em cena, cantam, dançam e contam suas histórias, lembranças boas e ruins, como Carolina Pierre, 41: "Eu sou filha de uma violação. Por isso minha mãe nunca me aceitou. Eu era a vergonha de sua vida", diz em cena. "Por isso fugi e me tornei uma 'restavec' [tipo de escrava doméstica]."
Também narram a saída de seu país (muitos deles após o terremoto que assolou a ilha em 2010) e a adaptação no Brasil, onde relatam casos de racismo e xenofobia.
Fedo Bacourt, 39, por exemplo, era professor de línguas e história no Haiti. Chegou ao Brasil há três anos. Tentou exercer aqui a profissão, mas só conseguiu emprego como ajudante de pedreiro, conta ele à Folha. Hoje está à frente de uma associação que ajuda imigrantes haitianos no país.
Ainda criticam a Minustah –Missão de Paz da ONU no Haiti, encabeçada pelo Brasil. Relatam que sofreram violência e estupro por parte dos militares.
A peça também conta com o palestino Isam Ahmad Issa, que o grupo conheceu no processo de pesquisa. "São situações muito parecidas. Palestinos e haitianos amam seus países, apesar de não serem Estados livres, constituídos", diz García Vázquez.
São acompanhados em cena por atores profissionais brasileiros –Letícia Sabatella, Maria Casadevall, Pascoal da Conceição e Henrique Mello–, que os ajudam a narrar suas histórias e guiar as cenas.
Os diletantes recebem uma ajuda de custo (a produção não divulga a quantia), mas muitos conciliaram o trabalho com seus empregos regulares.
HAITI SOMOS NÓS
QUANDO sex. (5) e sáb. (6), às 20h, dom. (7), às 19h
ONDE Galeria Olido, av. São João, 473, tel. (11) 3331-8399/ 3397-0171
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
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