Em 6ª edição, Jazz na Fábrica se fixa como caldeirão de vertentes do gênero
Na década de 1920, quando fez as gravações que o consolidaram como o primeiro grande solista do jazz, o trompetista americano Louis Armstrong (1901-71) certamente não imaginou que a música seria cultivada em todo o mundo. Hoje é praticamente uma linguagem universal.
A globalização e a diversidade dessa vertente têm norteado a curadoria do Jazz na Fábrica, um dos maiores festivais do gênero no país. Sua sexta edição vai ocupar três palcos no Sesc Pompeia, em São Paulo, de 11 a 28/8. Os ingressos começaram a ser vendidos nesta quinta (4).
Entre as 21 atrações há músicos, cantores e grupos instrumentais de diferentes países e etnias. A diversidade se reflete na música: vários estilos jazzísticos, do cool ao free jazz, misturam-se com influências da black music, do rock, da música oriental ou da vanguarda europeia.
Quem abre a extensa programação é o trompetista norte-americano Wallace Roney, músico talentoso cuja trajetória tem sido marcada por uma constante polêmica. Alguns críticos jamais o perdoaram pela sonoridade semelhante à de Miles Davis (1926-91), seu ídolo e mentor musical.
Já a obra do saxofonista e compositor canadense Michael Blake, que se apresenta nos dias 20 e 21, reflete como poucas a diversidade contemporânea do jazz. Desde a década de 1980, quando se radicou em Nova York, seus projetos têm revelado as mais variadas influências, do jazz de vanguarda à música oriental.
"Amo música de Nova Orleans, rhythm & blues e funk, gosto de cavar raízes e de world music", diz Blake, 52, à Folha. "Meu primeiro álbum já tinha a ver com uma viagem ao Vietnã e eu segui procurando inspiração em experiências pessoais. Tento achar um equilíbrio entre o intelecto e a emoção."
"Fulfillment", seu álbum mais recente, destaca uma suíte de sua autoria que remete a um histórico caso de racismo –em 1914, centenas de imigrantes indianos foram impedidos de entrar no Canadá.
"Inspirei-me em eventos recentes na Europa e nos EUA, mas tenho conexão ancestral com aquele incidente, porque meu tio-avô foi o responsável pela recusa a receber os imigrantes. Seria importante oferecer, pela música, um gesto de reparação."
Curiosamente, Blake só veio a lançar um disco de jazz sem misturas em 2014. Nesse trabalho, ao lado de seus costumeiros parceiros Ben Allison (contrabaixo) e Frank Kimbrough (piano), ele rendeu homenagens a dois clássicos mestres do saxofone: Lester Young (1909-59) e Coleman Hawkins (1904-69).
"Meu 12º álbum, 'Tiddy Boom', foi o primeiro de jazz puro. Esperei 30 anos para fazer um disco assim porque queria que fosse atemporal."
Blake já esteve duas vezes em São Paulo. Em 2008, quando tocou com quinteto de Ben Allison, numa noite da qual não se esquece, foi levado a um clube para ouvir samba e beber caipirinhas. "Sou um dançarino terrível, mas uma bela garota me ensinou uns passos. Foi uma das noites mais prazerosas de minha vida", lembra o músico, admirador de Tom Jobim que chegou a formar um grupo de bossa nova em Nova York.
JAZZ NA FÁBRICA
QUANDO De qui. a sáb, 21h (teatro) ou 21h30 (comedoria); dom., 17h (deck, grátis) ou 19h (teatro)
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO De R$ 12 a R$ 60, em sescsp.org.br ou unidades do Sesc
Livraria da Folha
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