CRÍTICA
Terry Hayes mostra limitações em thriller 'Eu Sou o Peregrino'
Kristin Hayes/Divulgação | ||
O roteirista Terry Hayes, autor de "Eu Sou o Peregrino" |
Britânico radicado na Austrália, Terry Hayes tem formação como correspondente político e repórter investigativo. É também roteirista de uma dúzia de séries de TV e filmes que vão da aventura de "Mad Max 2: A Caçada Continua" e "Mad Max: Além da Cúpula do Trovão" ao drama de "Limite Vertical".
Lançado no Brasil no primeiro semestre deste ano, "Eu sou o Peregrino" é seu primeiro romance, um thriller ambicioso que faz bom uso de seus talentos, mas também esbarra em suas limitações.
Abordando o terrorismo biológico, a história segue os anos de formação e aposentadoria de um espião que trabalha para uma divisão secreta do governo americano —o Peregrino—, em paralelo com os passos desde a infância de um terrorista muçulmano —o Sarraceno.
É uma macronarrativa que se desdobra em várias missões ao redor do mundo, gerando o contexto em que se desenvolverá a trama principal: a busca do governo norte-americano pelo homem que ameaça atacar os Estados Unidos com um novo vírus de varíola geneticamente modificado.
MAIS QUE PRECIOSISMO
Hayes tem um talento ímpar como contador de histórias e sabe prender a atenção por quase 700 páginas. Descreve paisagens do Oriente Médio e discorre sobre procedimentos de investigação como se entendesse do assunto, mas entrega sua ignorância em alguns detalhes.
Em certa passagem, o espião protagonista assume seu desconhecimento em informática, o que parece ecoar uma incapacidade do próprio autor. Os métodos investigativos que envolvem arquivos de áudio, vídeo e telefonia são bastante precários e qualquer um com conhecimento pouco além do básico flagra a fragilidade.
Mais do que preciosismo, isso gera uma desconfiança geral sobre a verossimilhança da trama e a capacidade de condução do autor, que compromete o jogo.
Não ajuda muito o fato de grande parte do plano do Peregrino depender da sorte para funcionar, o que acaba por exigir muito boa vontade do leitor em comprar as soluções da história.
Mais grave do que isso é a total falta de alma no texto, que se apoia na trama mirabolante, mas não desenvolve os personagens.
Eu Sou o Peregrino |
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Por se tratar de uma narrativa de espionagem, seria desculpável chegar ao final do romance sem ter uma ideia clara da personalidade de seu herói, mas isso se estende a todos os personagens.
Além disso, as doses de xenofobia em relação ao Oriente Médio como um todo estão longe de serem sutis.
Relevando tudo isso e aceitando "Eu Sou o Peregrino" como um novelão descartável de espionagem, é uma leitura bastante divertida. Típico caso do "não é bom, mas é legal".
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