Premiada em Sundance, Crystal Moselle retrata sexismo no mundo do skate
Vencedora do prêmio do júri no Festival de Sundance em 2015, a cineasta americana Crystal Moselle acredita que, em Hollywood, a mocinha do "blockbuster" é uma das poucas mulheres que recebem altos salários na indústria.
Nome incensado do circuito independente de Nova York, ela preferiu enveredar pelo universo do documentário, "porque nele não há dinheiro nem para homens nem para mulheres. Todos são iguais", diz à Folha.
Seu filme "That One Day" (ou "aquele um dia"), exibido na semana passada no Festival de Veneza, versa sobre esse preconceito sofrido por mulheres em ambientes essencialmente masculinos que, no caso do curta, é o das pistas de skate de Nova York.
O dia a que se refere o título é o das skatistas Nina Moran e Rachelle Vinberg, personagens principais da trama roteirizada, porém documental.
O curta é o 12º capítulo do projeto "Woman's Tales", da grife italiana Miu Miu, que promove cineastas mulheres e já patrocinou "histórias femininas" de realizadoras como a americana Miranda July e a argentina Lucrecia Martel.
"Conheci as meninas [Nina e Rachelle] no metrô. Falando com elas percebi uma história que precisava ser contada. Quando a Miu Miu me contatou, já tinha a ideia de rodar esse filme que, basicamente, é sobre pessoas que se apoiam de alguma maneira", explica.
Opressão e amizade são temas comuns à filmografia de Crystal. O premiado "Os Irmãos Lobo", que conta a história de seis irmãos e uma irmã que vivem enclausurados, por opção, num apartamento de Nova York, guarda semelhanças com o novo projeto.
"O ponto em comum [entre os dois filmes] é o olhar sobre as minorias, grupos de pessoas que são apaixonadas por algo ou por alguma ideologia", diz. "O curta trata da realidade. Se olharmos a quantidade de mulheres que estão na mídia, no cinema ou em outros projetos falando e lutando por seus direitos, veremos que a história é bastante atual."
Apesar de não ter papel central no conteúdo, a moda ajuda a construir as imagens, editadas como videoclipe.
"Foi legal ver como as garotas interagiram com as roupas para criarem seus próprios personagens e mundos individuais", diz Moselle, que misturou looks Miu Miu a peças do guarda-roupa das garotas.
A influência da marca, ela diz, se restringiu ao armário. Segundo a cineasta, o movimento das empresas de moda em patrocinar filmes faz bem para a indústria e "permite que as coisas funcionem para realizadores independentes".
GRIFES
Assim como a Miu Miu, a marca Giorgio Armani mantém há dois anos o projeto "Films of City Frames". Estudantes de cinema são selecionados anualmente para realizar curtas, depois exibidos em festivais como os de Toronto e Londres.
"Se você pode mostrar a história do seu jeito, é uma grande oportunidade de testar seu estilo", diz a cineasta. E também de se posicionar.
Num período em que os Estados Unidos assistem a "ideias preconceituosas vindo à superfície no debate eleitoral [pela presidência do país], é importante que os roteiristas possam externar essas mensagens. E nunca esquecê-las."
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