Crítica
Em 'Fluxo Invisível', grupo faz boa alegoria da questão hídrica
Pouco antes de a sala Adoniran Barbosa, do Centro Cultural São Paulo, se abrir, é possível ver a roda dos bailarinos e músicos do Núcleo Omstrab permeada por sorrisos e muitos abraços. Em clima de comemoração, o coletivo independente paulistano, dirigido por Fernando Lee, completa 20 anos.
O trabalho que marca esse aniversário, "Fluxo Invisível", vem acompanhado de uma mostra de fotos e figurinos, lançamento de livro-DVD, de CD com a trilha autoral de seus 12 balés e um documentário. Lee diz que a cada trabalho procura "descobrir novas formas de compor coreografias e músicas".
Com uma linguagem que mescla dança contemporânea, música ao vivo e teatro, o grupo iniciou seu percurso em 1996 com o espetáculo "Omstrab", que abordava a condição dos trabalhadores da construção civil. O nome surgiu da junção do termo "homens trabalhando".
Desde então, explorar a condição urbana está entre os objetivos da companhia, pela qual já passaram inúmeros bailarinos atuantes na dança contemporânea.
GARRAFAS PET
Para "Fluxo Invisível", o grupo se inspira na relação do homem com a água, na questão hídrica vivida no ano passado por São Paulo e na tragédia ambiental da cidade mineira de Mariana (MG).
Logo no começo do espetáculo, dezenas de garrafas PET entram em cena escorregando em telhas de plástico; elas formam um tapete no qual os bailarinos rolam e se jogam. Tudo é acompanhado pela percussão ao vivo, que avança à medida que os corpos ganham força.
Objetos como mangueiras plásticas, baldes, galões e um guarda-chuva feito com garrafas compõem o cenário simples, completado por projeções de imagens como a do acidente em Mariana.
Na movimentação dos quatro bailarinos existe uma energia pulsante (mais evidente nas mulheres) que poderia ser mais bem explorada. No entanto, o recado está dado desde o início: falta reverência a esse recurso essencial que mais parece invisível.
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