Crítica
Filme 'O Último Tango' lida bem com reveses de lendas do gênero
María Nieves Rego e Juan Carlos Copes revolucionaram a coreografia do tango. Durante quase 50 anos fizeram evoluir essa dança das milongas dos bairros populares de Buenos Aires –onde se conheceram adolescentes, no fim dos anos 1940–, dando-lhe um estatuto artístico e levando-a aos palcos de todo o mundo.
Apesar de terem formado uma dupla legendária, Nieves e Copes não foram bem-sucedidos como casal. Tiveram uma relação tempestuosa, cheia de idas e vindas, amor e ódio –sentimentos que, afinal, não são alheios ao universo do tango. Hoje octogenários, não se falam. Mas isso não impediu que Germán Kral, diretor e roteirista argentino radicado na Alemanha, contasse a história da dupla.
Divulgação | ||
Cena do filme ''O Último Tango'', de Germnán Kral |
Kral organiza a narrativa em três núcleos: imagens de arquivo dos espetáculos, reconstituições de momentos importantes de sua trajetória feitas com grande apuro visual –em que duas duplas de bailarinos mais jovens interpretam seus papéis em diferentes etapas da carreira, com coreografias elaboradas para o filme– e conversas de ambos com esses bailarinos.
O grande acerto de Kral é contar a história a partir desses três núcleos, que interagem de maneira constante e muito bem dosada. Além de estabelecer um ritmo bastante adequado, essa interação permite que o filme ultrapasse o mundo fechado do tango e se abra para questões mais universais como a velhice, a solidão, os desencontros.
O fio condutor são as recordações de Nieves. De maneira franca, ela conta como se apaixonou por Copes, como se tornaram figuras icônicas. E não se furta a falar das dores dos vários rompimentos amorosos com Copes; da separação artística em 1997, dos rancores e das injustiças que sofreu.
Um aspecto onipresente nas falas dela é o amor incondicional pelo tango, a única coisa que manteve a dupla unida quando só no palco eram capazes de sorrir.
Os depoimentos de Copes são mais curtos e menos numerosos. São também muito mais frios do que os dela. A sisudez mostra uma aparente segurança que se encaixa no perfil dominador do bailarino. Com distanciamento, ele dá sua versão dos fatos, que nem sempre coincide com o que Nieves diz.
Mas os dois concordam que Copes inventou um estilo próprio de dança, hierático e cheio de virtuosismo. Uma de suas características principais é a movimentação das pernas que Nieves realizava à perfeição. "Encontrei meu Stradivarius", diz Copes, frase que define o papel de cada um na dupla e a maneira como ele encara a parceira.
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